Richard Armitage, de «O Hobbit», destaca o sentido «católico e cavalheiresco» da obra de Tolkien
O actor inglês crê que esse cristianismo se vê na «sua nobreza, que se expressa através da gentileza e da piedade».
Actualizado 12 Dezembro 2012
Pablo Ginés/ReL
Richard Armitage, o actor que interpreta em "O Hobbit" Thorin Oakenshield, herdeiro do Reino dos Anãos da Montanha Solitária, declarou na recente conferência de imprensa de apresentação do filme em Nova Iorque que "uma das coisas que encontro quando olho o livro é um sentido do catolicismo de Tolkien, do seu cristianismo, não necessariamente de uma forma confessional, mas sim em termos da sua visão cavalheiresca do mundo, sua nobreza, que se expressa através da gentileza e da piedade. Está presente na maioria das suas personagens e o encontro inspirador".
O papel de Thorin Oakenshield, um anão nobre e guerreiro, descendente de reis e líder de uma quadrilha de entusiastas seguidores com os quais pretende recuperar o seu reino, é a maior aventura cinematográfica de Richard Armitage, actor inglês que em Espanha temos visto em anúncios do Banco Santander e em Inglaterra interpretando o malvado Guy de Gisburn na moderna série televisiva sobre Robin Hood.
Lealdade, honra, coração...
Milhões de pessoas viram já em cinemas e na Internet o trailer de "O Hobbit", a primeira de três películas de Peter Jackson baseadas na novela que o escritor católico inglês J.R.R. Tolkien publicou em 1937. A voz de Thorin ressoa solene no anúncio: "Conto com todos e cada um destes anãos para o melhor exército: lealdade, honra, um coração voluntarioso, que mais se pode pedir?" A frase - como tantas outras no filme, parece - não é do livro, não é de Tolkien, mas sim dos guionistas, mas recolhe essa "visão cavalheiresca" a que se refere o actor.
A ideia de "cavalheirismo" em Tolkien é real mas complexa. Como especialista em literatura e língua medieval, escreveu tanto das virtudes como dos defeitos do cavalheirismo, com as suas limitações e as suas glórias.
Por exemplo, numa carta ao seu filho Michael, sobre o cavalheirismo aplicado ao amor romântico, escreveu:
"Ainda na nossa cultura ocidental, a tradição do cavalheirismo romântico é forte, ainda que como produto da cristandade (que não é de nenhuma maneira o mesmo que a ética cristã) os tempos são-lhe hostis. Idealiza o “amor”... E isto até onde alcança pode ser muito bom, já que toma em conta algo mais do que o prazer físico e goza, se não da pureza, ao menos da fidelidade, de igual modo que o auto-sacrifício, o “serviço”, a cortesia, a honra e o valor."
Nesta enumeração de Tolkien de virtudes cavalheirescas que propõe (sacrifício, fidelidade, serviço, cortesia, honra e valor) a frase dos guionistas do trailer e do actor encontram o seu eco.
Não sou religioso, mas...
Quando um jornalista insistiu com Armitage sobre essa sensibilidade católica, o actor inglês respondeu: "Eu só sabia que tinha essa fé. C.S. Lewis escreveu alegoria religiosa, sem dúvida, e eram amigos próximos. Creio que liam o trabalho um do outro e influenciavam-se mutuamente. Há temas na sua obra que os olhas e pensas: porque isto ressoa assim? Eu não sou religioso, mas sentes que é um momento sagrado".
Logo, dá um exemplo de "frase assombrosa", ainda que não saiba se é de Tolkien ou da guionista, Phillippa Boyens (e, efectivamente, é da guionista). Se pronuncia quando o mago Gandalf entrega a Bilbo a sua primeira espada, Dardo. "A verdadeira coragem é aprender quando há que conservar uma vida mais do que em tomá-la". E Armitage afirma: "poderia isso ser mais católico, cristão, da fé que seja?"
Fazer os deveres: ler O Silmarillion
Na mesma entrevista, o actor explica que antes da rodagem na Nova Zelândia dedicou-se a ler obras de Tolkien: os Apêndices de O Senhor dos Anéis (umas duzentas páginas), "O Silmarillion" e "O Livro dos Contos Perdidos". Não releu "O Senhor dos Anéis" que tinha lido na adolescência.
"Vi muitas biografias sobre Tolkien porque queria entender porque havia escrito O Hobbit e o que o influenciou. Escreveu muito sobre anãos e o seu aspecto nórdico e a sua fascinação pela linguagem e as etimologias. Todas essas coisas interessaram-me", afirma Armitage, que interpreta a terceira personagem mais importante da película, despois do hobbit Bilbo Bolsón e o mago Gandalf.
Uma personagem que aprende no final
Há que dizer que Thorin não é sempre uma personagem positiva: a sua própria nobreza se escurece no livro com bastante orgulho e muita avareza.
No final, o que aprecia mais de Bilbo, tem que ver com outros dons: "Se muitos de nós dessem mais valor à comida, à alegria e às canções que ao ouro entesourado, este seria um mundo mais feliz", declarará o anão de estirpe real ao hobbit.
O actor inglês crê que esse cristianismo se vê na «sua nobreza, que se expressa através da gentileza e da piedade».
Actualizado 12 Dezembro 2012
Pablo Ginés/ReL
Richard Armitage, o actor que interpreta em "O Hobbit" Thorin Oakenshield, herdeiro do Reino dos Anãos da Montanha Solitária, declarou na recente conferência de imprensa de apresentação do filme em Nova Iorque que "uma das coisas que encontro quando olho o livro é um sentido do catolicismo de Tolkien, do seu cristianismo, não necessariamente de uma forma confessional, mas sim em termos da sua visão cavalheiresca do mundo, sua nobreza, que se expressa através da gentileza e da piedade. Está presente na maioria das suas personagens e o encontro inspirador".
O papel de Thorin Oakenshield, um anão nobre e guerreiro, descendente de reis e líder de uma quadrilha de entusiastas seguidores com os quais pretende recuperar o seu reino, é a maior aventura cinematográfica de Richard Armitage, actor inglês que em Espanha temos visto em anúncios do Banco Santander e em Inglaterra interpretando o malvado Guy de Gisburn na moderna série televisiva sobre Robin Hood.
Lealdade, honra, coração...
Milhões de pessoas viram já em cinemas e na Internet o trailer de "O Hobbit", a primeira de três películas de Peter Jackson baseadas na novela que o escritor católico inglês J.R.R. Tolkien publicou em 1937. A voz de Thorin ressoa solene no anúncio: "Conto com todos e cada um destes anãos para o melhor exército: lealdade, honra, um coração voluntarioso, que mais se pode pedir?" A frase - como tantas outras no filme, parece - não é do livro, não é de Tolkien, mas sim dos guionistas, mas recolhe essa "visão cavalheiresca" a que se refere o actor.
A ideia de "cavalheirismo" em Tolkien é real mas complexa. Como especialista em literatura e língua medieval, escreveu tanto das virtudes como dos defeitos do cavalheirismo, com as suas limitações e as suas glórias.
Por exemplo, numa carta ao seu filho Michael, sobre o cavalheirismo aplicado ao amor romântico, escreveu:
"Ainda na nossa cultura ocidental, a tradição do cavalheirismo romântico é forte, ainda que como produto da cristandade (que não é de nenhuma maneira o mesmo que a ética cristã) os tempos são-lhe hostis. Idealiza o “amor”... E isto até onde alcança pode ser muito bom, já que toma em conta algo mais do que o prazer físico e goza, se não da pureza, ao menos da fidelidade, de igual modo que o auto-sacrifício, o “serviço”, a cortesia, a honra e o valor."
Nesta enumeração de Tolkien de virtudes cavalheirescas que propõe (sacrifício, fidelidade, serviço, cortesia, honra e valor) a frase dos guionistas do trailer e do actor encontram o seu eco.
Não sou religioso, mas...
Quando um jornalista insistiu com Armitage sobre essa sensibilidade católica, o actor inglês respondeu: "Eu só sabia que tinha essa fé. C.S. Lewis escreveu alegoria religiosa, sem dúvida, e eram amigos próximos. Creio que liam o trabalho um do outro e influenciavam-se mutuamente. Há temas na sua obra que os olhas e pensas: porque isto ressoa assim? Eu não sou religioso, mas sentes que é um momento sagrado".
Logo, dá um exemplo de "frase assombrosa", ainda que não saiba se é de Tolkien ou da guionista, Phillippa Boyens (e, efectivamente, é da guionista). Se pronuncia quando o mago Gandalf entrega a Bilbo a sua primeira espada, Dardo. "A verdadeira coragem é aprender quando há que conservar uma vida mais do que em tomá-la". E Armitage afirma: "poderia isso ser mais católico, cristão, da fé que seja?"
Fazer os deveres: ler O Silmarillion
Na mesma entrevista, o actor explica que antes da rodagem na Nova Zelândia dedicou-se a ler obras de Tolkien: os Apêndices de O Senhor dos Anéis (umas duzentas páginas), "O Silmarillion" e "O Livro dos Contos Perdidos". Não releu "O Senhor dos Anéis" que tinha lido na adolescência.
"Vi muitas biografias sobre Tolkien porque queria entender porque havia escrito O Hobbit e o que o influenciou. Escreveu muito sobre anãos e o seu aspecto nórdico e a sua fascinação pela linguagem e as etimologias. Todas essas coisas interessaram-me", afirma Armitage, que interpreta a terceira personagem mais importante da película, despois do hobbit Bilbo Bolsón e o mago Gandalf.
Uma personagem que aprende no final
Há que dizer que Thorin não é sempre uma personagem positiva: a sua própria nobreza se escurece no livro com bastante orgulho e muita avareza.
No final, o que aprecia mais de Bilbo, tem que ver com outros dons: "Se muitos de nós dessem mais valor à comida, à alegria e às canções que ao ouro entesourado, este seria um mundo mais feliz", declarará o anão de estirpe real ao hobbit.
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