sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Bento XVI: "A divisão dos cristãos é um escândalo"

O Papa encerra em São Paulo Extramuros a Semana de Oração pela Unidade

Cerimónia junto a representantes ortodoxos, protestantes e anglicanos


Jesús Bastante, 25 de Janeiro de 2013 às 19:12

Bento XVI disse hoje que a mensagem cristã cada vez incide menos na vida das pessoas e que por isso a unidade dos cristãos é mais necessária que nunca para anunciar "de maneira sempre mais credível o Evangelho aos que não o conhecem ou os que se esqueceram dele".

O pontífice fez estas manifestações na basílica de São Paulo Extramuros, nos arredores de Roma, onde encerrou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na qual, perante representantes católicos, ortodoxos e protestantes, voltou a qualificar a divisão dos cristãos como um "escândalo".

Ante a presença do metropolita Gennadios, representante do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla; do reverendo David Richardson, do Arcebispado de Canterbury, e de membros de outras igrejas cristãs, Bento XVI fez um novo chamamento por causa da unidade dos cristãos e disse que os temas doutrinais que ainda os separam "não devem ser passados por alto ou minimizados".

"Esses temas devem ser enfrentados com valentia, num espírito de fraternidade e de respeito recíproco", sublinhou.

O Papa referiu-se à situação do cristianismo no mundo e afirmou que na sociedade actual "a mensagem cristã cada vez incide menos na vida pessoal e comunitária, e isso supõe um desafio para todas as igrejas e comunidades eclesiais".

"A unidade é um meio privilegiado, quase a premissa para anunciar de maneira cada vez mais credível a fé aqueles que não conhecem todavia o Salvador ou que tendo recebido o anúncio do Evangelho quase o esqueceram", afirmou o papa.

O Bispo de Roma acrescentou que o "escândalo" da separação é o que deu impulso ao movimento ecuménico e que a plena e visível comunhão entre os cristãos há que entendê-la como a característica fundamental para um testemunho "ainda mais claro".

Bento XVI denunciou as dificuldades nas quais vivem muitos cristãos no mundo e expressou a sua solidariedade com os da Índia "que muitas vezes tem que testemunhar a fé em condições difíceis".

O Pontífice exortou os cristãos a caminhar "por cima das barreiras, o ódio, o racismo e a discriminação social e religiosa que dividem e prejudicam a sociedade completa.

A unidade dos cristãos rompeu-se pela primeira vez depois do concílio de Éfeso, no ano 431, quando se separou a Igreja assíria, ou persa.

Depois do concílio de Calcedónia, no ano 451, separaram-se as igrejas coptas, síria, etíope e arménia, que tinham abraçado a tese do monofisismo, segundo a qual Cristo só tinha uma natureza, a divina, e era homem só em aparência.

O Concílio de Calcedónia condenou o monofisismo r definiu a dupla natureza de Cristo, humana e divina, unidas substancialmente numa só pessoa divina.

No século XI, em 1054, produziu-se o grande cisma, quando se separaram as igrejas do Oriente e Ocidente, depois das excomunhões do papa León IX e do patriarca Miguel Cerulario.

Às duas grandes igrejas separam-nas razões teológicas, como a rejeição dos ortodoxos ao primado de Roma e a negação da infalibilidade do Papa.

Os ortodoxos não reconhecem a validade dos sacramentos católicos, ao contrário da igreja Católica, que sim admite, desde o Vaticano II, os da igreja Ortodoxa.

Além disso, os ortodoxos culpam Roma de proselitismo e de tentar expandir-se em territórios até agora debaixo do seu controle.

A última grande separação produziu-se no século XVI (1517) com a reforma protestante de Lutero.

Visto que o primado de Pedro é um dos escolhos para a unidade, Bento XVI expressou à igreja Ortodoxa o seu desejo de que se estudem as formas para que o seu ministério como bispo de Roma possa realizar um serviço reconhecido por todos.

Em Novembro de 2007 as igrejas ortodoxas reconheceram o bispo de Roma como "primeiro patriarca", ainda que continuem discrepando com os católicos sobre a interpretação das suas prerrogativas, segundo um documento conjunto aprovado pela Comissão Mista para o Diálogo Teológico entre Católicos e Ortodoxos.

(RD/Agencias)


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