O papa da cruz, defensor de Maria e José
Roma, 07 de Fevereiro de 2013
Giovanni
Maria Mastai-Ferretti, o nono filho dos condes Girolamo Mastai e
Caterina Solazzi, nasceu em 13 de maio de 1792 em Senigallia, Marca de
Ancona, Itália. A epilepsia interrompeu seus estudos durante alguns
anos, até que, em 1815, depois de uma peregrinação a Loreto, a doença
desapareceu. Antes disso, já que o pai sonhava em vê-lo na Guarda Nobre
do papa, Giovanni tinha apresentado o pedido de aceitação, que foi
negado precisamente por causa da doença. Ele não se importou. Afinal, o
que realmente queria era ser sacerdote, e, livre da epilepsia, pôde
seguir a carreira eclesiástica e ser ordenado em 1819.
Oficiou a primeira missa na igreja de Santa Ana, perto de um centro
para jovens sem lar, onde realizaria um fecundo trabalho apostólico até
1823. O papa Pio VII o enviou depois para uma delicada missão: ser
auditor do delegado apostólico no Chile e no Peru. Sua acção apostólica
se polarizava na caridade para com os pobres e nas sucessivas tarefas
pastorais que foi recebendo. Foi cónego de Santa Maria em Via Lata,
dirigiu o grande hospital San Michele, foi arcebispo de Spoleto, cardeal
presbítero titular da igreja dos Santos Pedro e Marcelino, entre outras
responsabilidades. Grande diplomata e estrategista, fez com que
milhares de desertores do exército australiano depusessem as armas e, ao
se entregarem, obtivessem indulto.
Foi eleito pontífice em 16 de Junho de 1846. Era o sucessor de
Gregório XVI. Foi chamado de papa da cruz, e não à toa: seu longo
pontificado de 32 anos transcorreu por uma época histórica muito
difícil. Lutas entre facções políticas desencadearam ataques e saques às
igrejas italianas. A República Romana, proclamada por Giuseppe Mazzini,
Carlo Armellini e Aurelio Saffi, foi a pique com a intervenção das
tropas francesas. E o papa, que teve que se refugiar em Gaeta, pôde
voltar enfim para a cidade de Roma. Tinha sido acolhido com esperança,
graças ao seu carácter aberto, mas se negou a claudicar perante as
exigências do poder laico. Em paralelo, também se opôs frontalmente à
maçonaria.
Em 1845, proclamou o dogma da Imaculada Conceição, fato histórico
eclesial de grande relevância. Em 1864, promulgou a encíclica Quanta
Cura. O anexo Sillabus, que faz parte dela, é uma listagem de
ensinamentos proibidos, com que a Igreja condenava os erros do momento,
assim como conceitos liberais e iluministas. Entre as causas dos males
que afligiam a Igreja e a sociedade da época, o clarividente pontífice
apontou o ateísmo e o cientificismo do século XVII, postulados pela
maçonaria e exaltados pela Revolução Francesa. Atacado pelos maçons,
permaneceu incólume na defensa da verdade proclamada por Cristo e
continuou impulsionando a unidade da Igreja.
Designou São José como padroeiro de toda a Igreja, deu grande
importância à espiritualidade popular, reconheceu as aparições de Maria
em Salette e em Lourdes, convocou o Concílio Vaticano I (1869-70), e,
dentro dele, promulgou o dogma da infalibilidade papal.
Em 1870, quando Roma foi tomada por facções piemontesas, recluiu-se
no Vaticano. Mas nada podia acabar com a Igreja, e foi isto o que ele
gritou aos quatro ventos: “Nada é mais forte do que a Igreja. A Igreja é
mais forte que o próprio céu, pois tem a palavra de Jesus: o céu e a
terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
Seu amor sem reservas pela Igreja, a prática da caridade, a
fidelidade ao sacerdócio e a protecção dos missionários foram as paixões
deste grande pontífice. De quebra, tinha um senso de humor
extraordinário. Quando a anestesia de uma operação não foi
suficientemente efectiva, por exemplo, ele não se queixou. Mas, no final,
enquanto agradecia ao médico, não deixou de lhe dizer: “Você é um
astrónomo formidável. Me fez ver mais estrelas do que o director do
observatório com o telescópio”. Simples e aberto, recebeu grande carinho
das pessoas. Morreu em 7 de Fevereiro de 1878.
O beato José Baldo sintetizou sua vida asseverando: “A história dirá
que todo o mundo manteve os olhos cravados em Pio IX. Dirá que ele teve a
força do leão e a doçura, a ternura e a suavidade de uma mãe”.
Sua causa de beatificação foi longa e complexa, desde que Pio X a
iniciou em 11 de Fevereiro de 1907. Em 7 de Dezembro de 1954, Pio XII
voltou a se ocupar do processo. Paulo VI deu-lhe importante impulso e,
em 1986, a causa se encerrou com o milagre da cura inexplicável de uma
religiosa. Finalmente, João Paulo II o beatificou em 3 de Setembro de
2000.
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