Uma família transporta o féretro de um dos falecidos |
"Confia a Deus, Pai de misericórdia, os falecidos"
Oferece "o valor e o consolo da esperança cristã para todos os afectados pela tragédia"
Redacção, 28 de Janeiro de 2013 às 16:23
O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, enviou um telegrama em nome do Papa Bento XVI ao arcebispo de Santa Maria (Brasil), monsenhor Hélio Adelar Rubert, no qual transmite os seus pêsames às famílias das vítimas do incêndio numa discoteca do Brasil na qual morreram pelo menos 231 jovens.
"O Sumo Pontífice, consternado pela trágica morte de centenas de jovens (...), pede-lhe que transmita às famílias das vítimas o seu mais sentido pêsame e a sua participação na dor de todos quantos os choram", reza a missiva.
Além disso, Bento XVI "confia a Deus, Pai de misericórdia, os falecidos e roga-lhe conforto e restabelecimento para os feridos e o valor e o consolo da esperança cristã para todos os afectados pela tragédia". Finalmente, envia a sua bênção apostólica "a quantos sofrem e a quantos lhes prestam ajuda".
Texto do telegrama
"CONSTERNADO PELA TRAGICA MORTE DE CENTENAS DE JOVENS NUM INCENDIO EM SANTA MARIA, O SUMO PONTIFICE PEDE A SUA EXCELENCIA TRANSMITIR AS FAMILIAS DAS VITIMAS SUAS CONDOLENCIAS E SUA PARTICIPACAO NA DOR DE TODOS OS ENLUTADOS. AO MESMO TEMPO QUE CONFIA OS FALECIDOS A DEUS PAI DE MISERICORDIA, O SANTO PADRE ROGA AO CEU O CONSOLO E RESTABELECIMENTO PARA OS FERIDOS, O VALOR E A CONSOLACAO DA ESPERANCA CRISTA PARA TODOS OS AFLIGIDOS PELA TRAGEDIA, E ENVIA A QUANTOS SOFREM E OS QUE OS ASSISTEM, UMA PROPICIADORA BENCAO APOSTOLICA".
Brasil enterra os mortos
O Brasil enterra esta segunda-feira os mortos do fatal incêndio numa discoteca em Santa Maria, no sul do país, depois de um velório colectivo de várias das 231 vítimas, a maioria jovens universitários.
O país amanheceu consternado pela tragédia, que deixou também 116 feridos, mais de 80 graves. A presidente Dilma Rousseff, que no domingo interrompeu a sua participação na cimeira Celac-UE no Chile para reunir-se com as famílias das vítimas, decretou três dias de luto nacional.
As comemorações em Brasília pelo início da conta regressiva de 500 dias da Copa do Mundo de 2014 que terá o país como sede foram canceladas pelas autoridades locais e a FIFA.
Como sede do Mundial-2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, o Brasil encontra-se debaixo da lupa das organizações desportivas internacionais, entre cujas prioridades se encontra a segurança dos maiores eventos desportivos do mundo.
O fogo iniciou-se na madrugada do domingo na discoteca Kiss da cidade universitária de Santa Maria, no estado de Rio Grande do Sul, com um fogo artificial lançado por um integrante da banda musical "Gurizada Fandangueira", que tocava no local, segundo os bombeiros.
Pelo menos no início, a porta de saída foi bloqueada pelos agentes de segurança que pretendiam que as pessoas pagassem a sua entrada antes de sair, segundo sobreviventes.
No meio de uma nuvem negra de fumo tóxico, o pânico apoderou-se de centenas de pessoas que se pisotearam umas às outras e que viveram "um filme de terror", disse à AFP Kelly Rebello da Silva, uma estudante de química de 21 anos que sobreviveu.
A autorização dos bombeiros que a discoteca necessita para funcionar estava caducada desde Agosto, indicaram as autoridades. Mas a discoteca disse num comunicado que "tudo estava em regra" e que o ocorrido foi "uma fatalidade".
Um velório colectivo para 24 pessoas teve lugar na madrugada da segunda-feira no centro desportivo municipal para onde foram trasladados dezenas de cadáveres.
No final da madrugada, um silêncio perturbador sobrevoava o ginásio. O corpo de Luis Dias Oliveira descansava sobre uma base de madeira. Os seus familiares, resignados e com os olhos inchados e vermelhos, colocaram em cima do ataúde uma bandeira do Rio Grande do Sul e uma foto na que aparece de perfil, com rostro sério.
Numa das dezenas de urnas alinhadas uma ao lado da outra, rodeadas por cadeiras de plástico branco ocupadas por amigos e familiares, estavam as cinzas de Joao Carlos Barellos da Silva, que dirigia uma página na internet que cobria as festas da discoteca Kiss.
Da Silva foi achado morto na casa de banho do local. Umas 180 pessoas morreram nos lavabos, asfixiadas no meio de um tumulto provocado pelo pânico, procurando infrutuosamente a porta de saída, disse o capitão da polícia militar Edi Paulo Garcia.
"Foi um filho maravilhoso. Isto é muito difícil, era o meu único filho, o criei praticamente só porque o seu pai faleceu quando tinha 8 anos. Tive que reconhecê-lo entre essa quantidade de corpos (...) Esta é uma dor que não tem comparação", disse à AFP a sua mãe, Gelsa Ina Barcelos.
O balanço oficial de mortos foi revisto em baixa, de 233 para 231, porque alguns corpos foram "identificados duas vezes", explicaram as autoridades.
Mais de 80 feridos graves continuavam hospitalizados em Santa Maria e em Porto Alegre, capital de Rio Grande do Sul, muitos lutando pelas suas vidas, explicou na segunda-feira o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
A entrada da discoteca estava cerrada esta segunda-feira e era vigiada por dois polícias à espera da chegada de especialistas que realizarão uma perícia no local, constatou a AFP.
Os habitantes da cidade universitária, com uma população de umas 260.000 pessoas, colocaram oferendas florais em frente à discoteca, onde havia também montanhas de escombros dos muros derrubados à martelada pelos resgatadores para tentar salvar mais gente.
"É muito triste, perdi 13, 14 companheiros de turma. Dos amigos, um. Todo o mundo sabia dessa festa na discoteca", disse à AFP Felipe, de 22 anos, que com um grupo de amigos passou a segunda-feira em frente à discoteca a caminho de Uruguaiana, na fronteira com o Uruguai, onde o seu amigo ia ser enterrado.
Este é o segundo pior incêndio na história do Brasil, depois do sinistro que deixou 503 mortos num circo em Nitéroi, junto ao Rio de Janeiro, em 1961. (RD/Agencias)
Oferece "o valor e o consolo da esperança cristã para todos os afectados pela tragédia"
Redacção, 28 de Janeiro de 2013 às 16:23
O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, enviou um telegrama em nome do Papa Bento XVI ao arcebispo de Santa Maria (Brasil), monsenhor Hélio Adelar Rubert, no qual transmite os seus pêsames às famílias das vítimas do incêndio numa discoteca do Brasil na qual morreram pelo menos 231 jovens.
"O Sumo Pontífice, consternado pela trágica morte de centenas de jovens (...), pede-lhe que transmita às famílias das vítimas o seu mais sentido pêsame e a sua participação na dor de todos quantos os choram", reza a missiva.
Além disso, Bento XVI "confia a Deus, Pai de misericórdia, os falecidos e roga-lhe conforto e restabelecimento para os feridos e o valor e o consolo da esperança cristã para todos os afectados pela tragédia". Finalmente, envia a sua bênção apostólica "a quantos sofrem e a quantos lhes prestam ajuda".
Texto do telegrama
"CONSTERNADO PELA TRAGICA MORTE DE CENTENAS DE JOVENS NUM INCENDIO EM SANTA MARIA, O SUMO PONTIFICE PEDE A SUA EXCELENCIA TRANSMITIR AS FAMILIAS DAS VITIMAS SUAS CONDOLENCIAS E SUA PARTICIPACAO NA DOR DE TODOS OS ENLUTADOS. AO MESMO TEMPO QUE CONFIA OS FALECIDOS A DEUS PAI DE MISERICORDIA, O SANTO PADRE ROGA AO CEU O CONSOLO E RESTABELECIMENTO PARA OS FERIDOS, O VALOR E A CONSOLACAO DA ESPERANCA CRISTA PARA TODOS OS AFLIGIDOS PELA TRAGEDIA, E ENVIA A QUANTOS SOFREM E OS QUE OS ASSISTEM, UMA PROPICIADORA BENCAO APOSTOLICA".
Brasil enterra os mortos
O Brasil enterra esta segunda-feira os mortos do fatal incêndio numa discoteca em Santa Maria, no sul do país, depois de um velório colectivo de várias das 231 vítimas, a maioria jovens universitários.
O país amanheceu consternado pela tragédia, que deixou também 116 feridos, mais de 80 graves. A presidente Dilma Rousseff, que no domingo interrompeu a sua participação na cimeira Celac-UE no Chile para reunir-se com as famílias das vítimas, decretou três dias de luto nacional.
As comemorações em Brasília pelo início da conta regressiva de 500 dias da Copa do Mundo de 2014 que terá o país como sede foram canceladas pelas autoridades locais e a FIFA.
Como sede do Mundial-2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, o Brasil encontra-se debaixo da lupa das organizações desportivas internacionais, entre cujas prioridades se encontra a segurança dos maiores eventos desportivos do mundo.
O fogo iniciou-se na madrugada do domingo na discoteca Kiss da cidade universitária de Santa Maria, no estado de Rio Grande do Sul, com um fogo artificial lançado por um integrante da banda musical "Gurizada Fandangueira", que tocava no local, segundo os bombeiros.
Pelo menos no início, a porta de saída foi bloqueada pelos agentes de segurança que pretendiam que as pessoas pagassem a sua entrada antes de sair, segundo sobreviventes.
No meio de uma nuvem negra de fumo tóxico, o pânico apoderou-se de centenas de pessoas que se pisotearam umas às outras e que viveram "um filme de terror", disse à AFP Kelly Rebello da Silva, uma estudante de química de 21 anos que sobreviveu.
A autorização dos bombeiros que a discoteca necessita para funcionar estava caducada desde Agosto, indicaram as autoridades. Mas a discoteca disse num comunicado que "tudo estava em regra" e que o ocorrido foi "uma fatalidade".
Um velório colectivo para 24 pessoas teve lugar na madrugada da segunda-feira no centro desportivo municipal para onde foram trasladados dezenas de cadáveres.
No final da madrugada, um silêncio perturbador sobrevoava o ginásio. O corpo de Luis Dias Oliveira descansava sobre uma base de madeira. Os seus familiares, resignados e com os olhos inchados e vermelhos, colocaram em cima do ataúde uma bandeira do Rio Grande do Sul e uma foto na que aparece de perfil, com rostro sério.
Numa das dezenas de urnas alinhadas uma ao lado da outra, rodeadas por cadeiras de plástico branco ocupadas por amigos e familiares, estavam as cinzas de Joao Carlos Barellos da Silva, que dirigia uma página na internet que cobria as festas da discoteca Kiss.
Da Silva foi achado morto na casa de banho do local. Umas 180 pessoas morreram nos lavabos, asfixiadas no meio de um tumulto provocado pelo pânico, procurando infrutuosamente a porta de saída, disse o capitão da polícia militar Edi Paulo Garcia.
"Foi um filho maravilhoso. Isto é muito difícil, era o meu único filho, o criei praticamente só porque o seu pai faleceu quando tinha 8 anos. Tive que reconhecê-lo entre essa quantidade de corpos (...) Esta é uma dor que não tem comparação", disse à AFP a sua mãe, Gelsa Ina Barcelos.
O balanço oficial de mortos foi revisto em baixa, de 233 para 231, porque alguns corpos foram "identificados duas vezes", explicaram as autoridades.
Mais de 80 feridos graves continuavam hospitalizados em Santa Maria e em Porto Alegre, capital de Rio Grande do Sul, muitos lutando pelas suas vidas, explicou na segunda-feira o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
A entrada da discoteca estava cerrada esta segunda-feira e era vigiada por dois polícias à espera da chegada de especialistas que realizarão uma perícia no local, constatou a AFP.
Os habitantes da cidade universitária, com uma população de umas 260.000 pessoas, colocaram oferendas florais em frente à discoteca, onde havia também montanhas de escombros dos muros derrubados à martelada pelos resgatadores para tentar salvar mais gente.
"É muito triste, perdi 13, 14 companheiros de turma. Dos amigos, um. Todo o mundo sabia dessa festa na discoteca", disse à AFP Felipe, de 22 anos, que com um grupo de amigos passou a segunda-feira em frente à discoteca a caminho de Uruguaiana, na fronteira com o Uruguai, onde o seu amigo ia ser enterrado.
Este é o segundo pior incêndio na história do Brasil, depois do sinistro que deixou 503 mortos num circo em Nitéroi, junto ao Rio de Janeiro, em 1961. (RD/Agencias)
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