terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Chegam os funerais verdes, a ecologia mortuária ou um «reavivar» de velhas ideias gnósticas

Iniciativas «eco-friendly»: esquecem a dignidade do momento


Para Introvigne, tenta-se também eliminar a recordação da pessoa, quer dizer, o seu nome, já que a memória dos mortos perpetuaria este mal que foi a sua vida fora do ciclo da natureza.

Actualizado 29 Janeiro 2013

Sara Martín / ReL


Eco-sepulturas. Cemitérios ecológicos. Funerais verdes. Chega a nova moda: o ecologismo até às últimas — literalmente — consequências. Também começam a ver-se os ataúdes de cartão, considerados como não contaminantes e «de baixo impacto ambiental».

Uma moda que, levada ao extremo, resta a devida importância ao facto que nesse momento se recorda e que pode inclusive faltar a devida dignidade do defunto. Por exemplo, com propostas como a da associação sueca «Promise», que advoga pelo enterramento nu no solo, para que o corpo humano se converta num fertilizante útil. Até onde pode chegar a moda dos funerais verdes e a influência do New Age?

«Voltar» ao ciclo da natureza
De acordo com esta associação, sempre se seguiram três caminhos para o enterro dos seres queridos: permitir que volte a ser terra, que apodreça ou que se queime. Segundo a bióloga Susan Wiigh-Masak, só as duas últimas possibilidades se cumprem sempre. Wiigh-Masak idealizou uma técnica concebida para eliminar a água e congelar posteriormente o corpo, de modo que o organismo biológico se converta assim num fertilizante natural. Uma das últimas propostas que vem demonstrar a perda de dignidade que a sociedade outorga, cada vez mais, ao facto de enterrar os seres queridos.

Segundo Massimo Introvigne, intelectual e sociólogo italiano, director do Centro de Estudos Sobre as Novas Religiões o CESNUR, tudo isto pertence a um conceito da ecologia profunda que, na realidade, «difunde a ideia de que, uma vez morto, cada um volte a ser parte da natureza. A identidade do homem, que havia sobressaído por um tempo como se fosse uma ondulação do grande mar panteístico que é a natureza, deve voltar a submergir-se neste mar, perdendo a sua identidade própria».

Para Introvigne, tenta-se também eliminar a recordação da pessoa, quer dizer, o seu nome, já que a memória dos mortos perpetuaria este mal que foi a sua vida fora do ciclo da natureza.

Ecologismo mortuário
Introvigne concedeu há algum tempo uma entrevista sobre este tema ao diário Il Sussidiario, na qual assegurava que por detrás da moda do ecologismo mortuário se esconde o que se chama uma ecologia profunda: «Uma larga tradição de ataque contra um bastião do cristianismo, quer dizer, a diferença deontológica, que nos diz que o homem é a única criatura que Deus amou por si mesmo; os demais, as árvores, os campos e os animais, foram queridos por Deus em função do homem», explica.

Quer dizer, é o homem o ser superior que domina a natureza? Não exactamente, pontualiza o sociólogo italiano. «Por suposto, existe uma ecologia aceitável, como diz frequentemente Bento XVI, e também uma ecologia cristã, porque o homem está chamado a administrar todas as demais criaturas que Deus quis para o homem mesmo. Não é um déspota ou mestre absoluto, mas sim que tem a responsabilidade da criação».

A diferença entre a ecologia cristã e o ecologismo profundo
Existe uma teologia cristã do meio ambiente: a ecologia é algo bom em si mesmo, mas o ecologismo é «um desvio». Em particular, a ecologia profunda — idealizada pelo filósofo norueguês Arne Naess —, que nega que exista una diferença ou uma dignidade mais alta ou um valor superior do homem em relação ao resto da criação. E é aqui onde encaixam as ideias das eco-sepulturas. Na negação de que há uma diferença ontológica entre o homem criado à imagem de Deus, e as demais criaturas.

O intelectual dá o exemplo mais próximo que tem: «Eu vivo em Turim, e ali o nosso governo de centro-esquerda deu a possibilidade de ser simplesmente esquecido numa grande fossa comum onde se perde a identidade, e inclusive o nome. Na realidade, a Administração, mais do que encorajar esta iniciativa, a recebeu de um associacionismo radicalmente ateu, que se opôs inclusive a que fossem projectados os nomes dos defuntos. Não aceitaram isso sequer», lamenta Introvigne.

E tudo isto, porquê?
Porque é necessário voltar a ser parte da natureza, explica: «Trata-se basicamente da velha ideia gnóstica que sustem que o afirmar-se no próprio eu é um mal a que a morte põe afortunadamente, remédio. Recordar o morto perpetuaria este mal. Como sucede frequentemente, o panteísmo — de que este ecologismo profundo não é mais que a sua última encarnação —, combina-se com o gnosticismo. Quer dizer, a ideia de que o surgimento no universo de uma forte identidade como a do homem não é um bem, mas sim um mal», adverte.

No fundo, como conclui Introvigne, é tudo um reavivar de velhas ideias gnósticas.


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