Bento XVI reflecte sobre a natureza da criação de Deus
Roma, 06 de Fevereiro de 2013
Deus,
como "Pai na criação", foi o tema da catequese do papa Bento XVI na
audiência geral desta manhã. O credo, disse o Santo Padre, nos recorda
em primeiro lugar a Sagrada Escritura (cf. Gn 1,1). Deus é, portanto, "a
origem de todas as coisas e é na beleza da criação que se revela a sua
omnipotência de pai que ama".
"Como pai bom e poderoso, ele toma conta do que criou com amor e lealdade que nunca falham", continuou o papa.
Conforme apontado por São Paulo (cf. Hb 11,3), tendo sido o mundo
criado por Deus, é a partir do invisível que toma forma o que é visível,
e, assim, a fé significa "ser capaz de reconhecer o invisível mediante
as suas marcas no mundo visível".
A inteligência humana pode encontrar na bíblia, à luz da fé, “a chave
de interpretação para compreender o mundo”. Os primeiros seis dias da
obra da criação divina do mundo são todos finalizados pela afirmação
"Deus viu que isso era bom" (Gn 1,4.10.12.18.21.25).
No sétimo dia, dedicado à criação do homem, a afirmação do autor
bíblico é reforçada: "Deus viu tudo o que tinha feito, e eis que era
muito bom" (Gn 1,31).
"Tudo o que Deus cria é bom e belo, cheio de sabedoria e de amor. A
acção criadora de Deus traz ordem, harmonia e beleza", ressaltou o papa.
Qual é o sentido, porém, "na era da ciência e da tecnologia, de ainda
falarmos da criação?", questionou Bento XVI. "A bíblia não pretende ser
um manual de ciências naturais; sua intenção é ajudar a entender a
verdade genuína e profunda das coisas", respondeu.
Do Génesis, portanto, aprendemos que "o mundo não é um conjunto de
forças contrastantes, mas que a sua origem e estabilidade estão no
Logos, na razão eterna de Deus, que continua a sustentar o universo".
Acreditar que o agir racional de Deus está na base da criação
"ilumina cada aspecto da vida e nos dá a coragem de enfrentar com
confiança e esperança a aventura da vida", acrescentou o papa.
O ser humano, por sua vez, na sua pequenez e limitação, é "capaz de
conhecer e amar seu Criador" (constituição pastoral Gaudium et Spes,
12). A fragilidade humana, disse o papa, convive com "a magnitude do que
o eterno amor de Deus quis para nós".
O Génesis diz que o homem foi criado por Deus do "pó da terra" (cf.
Gn 2,7), que torna todos iguais, sem distinções culturais nem sociais. O
homem, portanto, não é deus, nem foi criado por si mesmo, mas tem
originem "da terra boa, por obra de um Criador bom".
Todo homem é criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 2,7), de
quem carregamos o "sopro de vida". "Esta é a razão mais profunda da
inviolabilidade da dignidade humana perante qualquer tentação de avaliar
a pessoa de acordo com critérios utilitários e de poder", reforçou
Bento XVI.
Do Génesis, prosseguiu ele, emergem duas imagens significativas. A
primeira é "a árvore do conhecimento do bem e do mal" (cf. Gn 2,15),
ponto de referência em Deus por parte do homem, que deve "reconhecer o
mundo não como propriedade a ser saqueada e explorada, mas como um dom
do Criador".
E há também a imagem da serpente demoníaca (cf. Gn 2,8-15), que
insinua ao homem "a desconfiança de que a aliança com Deus seja como uma
corrente que o prende, que o priva da liberdade e das melhores coisas
da vida". Daí a origem de todas as tentações: da pretensão de "construir
o próprio mundo, de não aceitar as limitações da criatura, os limites
do bem e do mal, da moralidade".
Se o homem "perverte a relação com Deus com a mentira, colocando-se
no seu lugar, todas as outras relações acabam alteradas" e o outro "se
torna um rival, uma ameaça", a ponto de "a inveja e o ódio pelo outro
entrarem no coração do homem" e Caim chegar a matar o próprio irmão Abel
(Gn 4,39).
Caindo no pecado original, o homem se rebela não apenas contra Deus,
mas "contra si mesmo", originando assim "todos os pecados da história". O
primeiro pecado é a destruição da "relação com Deus", que, juntamente
com as relações humanas, é o ponto de partida para o homem ser ele
mesmo.
O homem não pode "redimir-se sozinho". Só Deus pode restaurar as
"relações corretas". Se Adão tinha a pretensão de tomar o lugar de Deus,
Jesus Cristo reconstrói o "relacionamento filial perfeito com o pai",
rebaixando-se, tornando-se "servo" e percorrendo "o caminho do amor,
humilhando-se até a morte de cruz"; a mesmo cruz que, assim, se torna "a
nova árvore da vida".
Viver de fé, concluiu Bento XVI, significa, portanto, "reconhecer a
grandeza de Deus e aceitar a nossa pequenez, a nossa condição de
criaturas, deixando que Nosso Senhor a preencha com o Seu amor".
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