Porta-voz vaticano se manifesta sobre novo livro do homem que atentou contra João Paulo II
Roma, 04 de Fevereiro de 2013
O porta-voz do Vaticano, pe. Federico Lombardi, analisa em artigo publicado no site da Rádio Vaticano o recém-publicado livro de memórias do homem que, em 13 de maio de 1981, disparou contra o papa João Paulo II.
De acordo com a nova versão contada por Ali Agca, o atentado que ele cometeu com a intenção de assassinar João Paulo II teria sido encomendado pelo aiatolá Khomeini. “Eles me prometeram o paraíso - Minha vida e a verdade sobre o atentado contra o papa” é o título da nova autobiografia, que não é a primeira, de Mehmet Ali Agca.
Em seu artigo, que traz o sugestivo título “A nova verdade, ou melhor, as novas falsidades de Ali Agca”, o pe. Lombardi avalia que a nova biografia é “contada com duvidosa perícia e com a ajuda de um especialista em novelas, que se mantém no anonimato. A revelação central, trinta e dois anos depois do atentado, seria a do verdadeiro mandante da tentativa de assassinato do papa: o aiatolá Khomeini”.
A “autobiografia novelada” de Ali Agca retoma várias versões que ele já tinha escrito anteriormente, prossegue o porta-voz vaticano, e “confirma a sua política de despistar sistematicamente os investigadores. Nega as pistas que direccionavam as atenções para o Leste Europeu e tenta construir uma trama internacional: o aiatolá Khomeini, o Irão, o islã 'nazifascista' seriam a verdadeira explicação da decisão de matar o papa como ápice da guerra final contra o odiado ocidente cristão”.
Sem panos quentes, Lombardi aponta as informações de Agca que, comparadas com os fatos reais, simplesmente não se encaixam: “confirmações negativas precisas que se baseiam em testemunhos muito fidedignos”.
Por exemplo: “Não é verdade que Agca tinha falado com o papa sobre o aiatolá Khomeini e sobre o Irão como mandante do crime, durante a conversa mantida com o papa na cela (e este é um ponto central do livro). Não é verdade que o Vaticano considerasse fundamentada a pista islâmica. Não é verdade que João Paulo II tenha convidado Agca a se converter ao cristianismo nem que tenha enviado uma carta para ele no presídio. Não é verdade que o cardeal Ratzinger escrevia cartas para Agca”.
Lombardi também desmente que o ex-porta-voz vaticano Navarro-Valls tenha feito referência a uma “hipótese islâmica” do caso Emanuela Orlandi, jovem cuja família residia na Cidade do Vaticano e que foi sequestrada misteriosamente na Itália. Entre outros motivos porque, na data citada por Agca, Navarro-Valls ainda nem era porta-voz.
De acordo com o agressor, ele teria dito a verdade a João Paulo II na famosa visita que o papa lhe fez em 27 de Dezembro de 1983 no presídio romano de Rebibbia, com a condição de que o papa mantivesse o segredo. O segredo, no caso, seria que Khomeini e o governo iraniano teriam sido os mandantes do atentado.
O porta-voz vaticano afirma em seu artigo que interrogou o cardeal Stanislaw Dziwisz, então secretário de João Paulo II, que o acompanhara na visita à cela de Agca e que, com o consentimento do papa, ouvira a conversa claramente, embora não muito de perto.
“Dziwisz confirma que eles falaram sobre o segredo de Fátima, mas nega absolutamente que tenha sido mencionado o aiatolá Khomeini e que o papa tenha convidado o agressor a se converter ao cristianismo”.
Bento XVI confirmou a Lombardi que, quando ainda era cardeal, recebeu, como outras personalidades, algumas cartas de Ali Agca, mas que nunca lhe respondeu. Agca diz, porém, que recebeu as respostas de Ratzinger, mas as destruiu.
“Tudo o que era da minha alçada e que eu pude verificar é falso”, resume Lombardi, recordando que “às mais de cem versões que Agca já deu sobre os fatos, agora ele adiciona esta última. Excessivas para que possamos acreditar nelas”.
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