Um diálogo urgente com o promotor do ecumenismo na Santa Sé, o
cardeal Kurt Koch, faltando poucos dias para a Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos (I)
José Antonio Valera Vidal
CIDADE DO VATICANO, Terça-feira, 15 Janeiro 2013
No
dia 18 de Janeiro começa a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
que se estende até a próxima sexta-feira 25. Por motivo desta festa, o
Papa Bento XVI preside a cada ano uma celebração litúrgica na Basílica
de São Paulo no Vaticano, com os líderes das mais importantes igrejas
cristãs. O objectivo comum é claro: crescer na unidade.
Esta
actividade também pode muito bem ser organizada nas dioceses, paróquias,
movimentos, escolas e seminários, ou onde exista uma igreja cristã com a
qual dialogar e reunir-se para rezar... Este esforço – que nasce no
século XIX, por iniciativa da Igreja Anglicana – encontrou um grande
promotor na Santa Sé, que trabalha muito unido com o Conselho Mundial
das Igrejas para escolher um tema anual e fornecer materiais para
reflexão e oração.
O órgão responsável pela promoção desta excelente iniciativa em toda a
Igreja Católica, é o Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos.
ZENIT conversou com o prefeito, o cardeal suíço Kurt Koch, que é
responsável também pelo importante diálogo com o judaísmo.
Oferecemos aos nossos leitores a primeira parte da entrevista.
ZENIT: Como começa a história desta semana de oração?
Cardeal Koch: A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos começou no
século XIX. Foi uma iniciativa ecuménica dos anglicanos, aceita pela
Igreja Católica com o Papa Leão XIII. Depois transformou-se num bom
hábito e hoje é o evento mais importante do ano para o ecumenismo,
porque a oração pela unidade é a base de todo o movimento ecuménico.
Sabemos que o Decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II fala do
“ecumenismo espiritual", que é o coração de tudo.
ZENIT: Quantas igrejas cristãs respondem a este apelo?
Cardeal Koch: A preparação que fazemos é em conjunto com o Conselho
Mundial das Igrejas, e acho que muitas igrejas e comunidades eclesiais
fazem esta oração, mas não tenho certeza se todos participam.
ZENIT: E justamente o tema desse ano é “caminhar juntos”. Quais são os esforços mais importantes dos últimos anos?
Cardeal Koch: Depois de 50 anos, ou seja, após a abertura, fomos
capazes de reunir muito fruto. Agora temos 16 diálogos com 16 outras
Igrejas e comunidades eclesiais no mundo. Fomos capazes de criar uma
rede de amizades com as diversas Igrejas e comunidades eclesiais, que já
não são mais inimigas, mas se reconhecem como irmãos e irmãs; isso
cresce principalmente sobre o fundamento do baptismo, que é o verdadeiro
fundamento de tudo.
ZENIT: Mas ainda não é o suficiente, certo?
Cardeal Koch: A aceitação mútua do baptismo é a ponte de todo o
movimento ecuménico. É claro que depois de 50 anos não foi possível
atingir a meta do ecumenismo, que é a unidade visível de todos os
cristãos de todas as igrejas.
ZENIT: Há elementos comuns no culto?
Cardeal Koch: Eu acho que por um lado há uma diferença no ecumenismo
com as Igrejas ortodoxas, também orientais; e por outro lado com as
igrejas que nasceram da Reforma. Com todas as Igrejas orientais o
fundamento básico está na fé comum, mas temos uma cultura diferente. Com
as igrejas que nasceram a partir da Reforma, não temos a mesma
continuidade na fé, mas temos a mesma cultura. E esta diferença tem uma
importância muito grande nos conteúdos do diálogo.
ZENIT: O mesmo acontece na liturgia ...
Cardeal Koch: Para os católicos, é possível rezar com todos os
cristãos sobre a base do baptismo, mesmo com muitos ortodoxos. Eu fui à
Constantinopla para a festa de Santo André e sempre participei na
liturgia com uma grande acolhida dos patriarcas. Mas, por outro lado, há
alguns ortodoxos, que dão a impressão de que não é possível orar junto
com os católicos...
ZENIT: Sobre a questão da liberdade religiosa, que é motivo
de sofrimento para muitos cristãos, qual deveria ser a atitude nessas
situações?
Cardeal Koch: Acho que é muito importante a declaração do Concílio
Vaticano II sobre a liberdade religiosa da pessoa humana. Este é um
grande compromisso com as nossas igrejas, aprofundar e apoiar a
liberdade religiosa para todos os cristãos em todos os países. O desafio
é grande porque da maioria dos crentes em todo o mundo que estão sendo
perseguidos por razões de fé, 80% são cristãos.
ZENIT: Alguns deles já morreram ou sofreram prisão perpétua ...
Cardeal Koch: Neste sentido, o Beato João Paulo II falou de um
"ecumenismo dos mártires". Para mim, isso é muito profundo, porque todas
as comunidades eclesiais têm seus próprios mártires. O martírio já vive
- nas palavras de João Paulo II - uma "plena comunhão", e nós na terra
ainda não ... Assim, a oração dos mártires no céu pode ajudar a
aprofundar a unidade e o ecumenismo na terra.
Para participar da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2013:
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