quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

María de Villota e o «papel fundamental de Deus» na sua recuperação depois do acidente de carro

Era piloto de Fórmula 1

A piloto espanhola perdeu um olho mas assegura que agora vê mais do que antes, porque percebe as coisas importantes da vida. Leva a sua história com "orgulho e carinho".

Actualizado 21 Janeiro 2013

Javier Lozano / ReL


María de Villota estava cumprindo o seu sonho desde criança, pilotar um Fórmula 1. Com uma prometedora carreira pela frente já era piloto provador da equipa Marussia. No passado dia 3 de Julho estava realizando no aeródromo britânico de Duxford diversas provas aerodinâmicas com o monolugar da sua esquadria quando teve um terrível acidente que mudou a sua vida. Chocou contra um camião e o seu capacete ficou feito em pedaços.

Esteve a ponto de morrer, perdeu o olho direito e depois de várias operações levou seis placas de titânio na cabeça. O seu sonho de ser piloto titular e imitar o seu pai desvaneceu-se mas longe de vir-se abaixo viu a mão de Deus em todo este tempo e assegura que o acidente lhe mudou de maneira radical a forma de ver a vida.

O seu acidente comoveu o mundo e a sua recuperação é todo um exemplo de superação ante a adversidade. No passado dia 13 de Janeiro cumpriu 33 anos e numa entrevista no programa ´El Partido de las 12’ de COPE, María confessava que “nunca soprou as velas com tanta vontade. A felicidade é algo muito simples. Sempre gostei de olhar em frente”.

O papel de Deus na sua recuperação
Sem dúvida, neste duro processo desde que sofreu o terrível acidente experimentou uma força sobrenatural. “Quando passeio pelas ruas as pessoas dizem-me que rezaram muito por mim. Agradeço-lhes. Quando voltei um primo meu faleceu e eu não. Deus jogou um papel muito importante na minha recuperação”, afirmava María de Villota.

A sua irmã Isabel estava presente quando María chocou contra o camião e meses depois explicou na revista Hola como houve uma mão divina em todo este sucesso. Ela foi a primeira a chegar ao local do acidente: “tentei o carro de debaixo, comecei a gritar, até que vieram todos os mecânicos. Afastaram-me do carro e já não me deixaram voltar aonde estava María”.

Isabel recorda que “não parava de perguntar: está morta? Está morta? E eles diziam-me: “não sabemos”. Então foi quando me atirei ao solo da pista, pus-me a rezar como uma condenada e, ao fim dos angustiosos minutos que passou inconsciente, alguém disse: ‘está movendo-se’. E eu pensei: ‘graças a Deus’.

Um sinal de Deus
A irmã da piloto considera que não estava com ela nessas provas no Reino Unido por casualidade. “Foi como um sinal de Deus, porque senti que tinha que ir”. María o vê assim também: “estou certa de que, desde o momento que chegou ao carro, a oração, as decisões que teve que tomar no hospital, tudo o fez com tanta eficácia…”.

Recordando esses momentos, Isabel continuou contando factos para ela inexplicáveis. Relatava que María não podia tomar certos fármacos. “Estando como estava, perguntei-lhe: María, a que és alérgica? Sem ter a menor esperança de que me respondesse, como se estivesse fazendo uma pergunta a Deus, e ela respondeu: pirazolonas”.

“Agora vejo mais que antes”
María experimentou uma mudança importante no seu interior e não só físico devido ao acidente em todos estes meses. Numa entrevista na Car&Driver confessa que “dás-te conta de que vês mais do que antes. Eu antes só via a Fórmula 1, só me via encima de um carro competindo e não via o que realmente era importante na minha vida”. Por isso, recorda que “não tenho um olho, não tenho olfacto, mas tenho pela frente outro olho e o tacto”.

Aceitar a sua situação não foi fácil ao princípio mas a sua virtude foi buscar consolo em quem podia dá-lo. “No primeiro dia que me olhei no espelho tinha 104 pontos na cara, negros, que pareciam cosidos com corda náutica e havia perdido o olho. Fiquei aterrada”. Nesse primeiro instante pensou em quem ia querê-la assim. Mas logo esse mau pensamento mudou ao chegar ao convencimento de que as pessoas que estavam em seu redor “me queriam para esta vida e para a que vem agora”.

“Levo a minha história com carinho e orgulho”
De facto, há uma frase que define na perfeição como afrontou María este trauma: “o meu aspecto de agora diz muito mais de quem é María de Villota que o aspecto anterior. Levo a minha história e a levo com muitíssimo carinho e orgulho”.

Neste sentido, a jovem piloto espanhola afirma que “a primeira sensação que teve depois do acidente foi negativa porque necessitava dos dois olhos, mas demorou muito pouco a ver todo o resto”. Foi esse encontro com p sofrimento humano o que s levou a mudar de atitude. Dar-se conta de que apesar de tudo devia estar agradecida com o dom da vida. “Conheci pessoas que o passaram muito mal. Afinal há que desfrutar do que tens porque não há mais. Desfrutar das coisas pequenas. Esse beliscar de humor é necessário para seguir em frente. Vou dar toda essa energia”.

Os seus novos desafios
Agora que já não vai poder competir a nível profissional, María de Villota quer enfrentar três desafios. Por um lado afirma que continuará ligada ao mundo do motor, “que adoro”. O segundo, é o dos enfermos dado que “estou no grupo dos que estão mal. Depois de ver que há gente que os passa tão mal, eu tenho que fazer algo”. Por isso, colabora activamente na Fundação Ana Carolina Díez Mahou, que ajuda doentes neuromusculares mitocondriais. E em terceiro lugar está ajudar a mulher, conseguir que uma chegue a ser titular na Fórmula depois de que ela ficou às portas. Na vida, diz contente, “todavia há que lutar por muitas coisas!”.


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