Economistas do Fundo Monetário Internacional criticam política de cortes
Carmine Tabarro
ROMA, Terça-feira, 15 Janeiro 2013
Nos
últimos meses, foi denunciado diversas vezes o fracasso das políticas
utilitaristas de austeridade e de rigor orçamentário. A história
económica nos ensina que as políticas de austeridade excessiva em tempos
de crise são devastadoras e só originam novas escaladas de crise, como
vem acontecendo na Europa nos últimos anos.
Finalmente, com
honestidade intelectual incrível, este erro foi admitido por Olivier
Blanchard, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ele publicou recentemente, em co-autoria com Daniel Leigh, do
departamento de pesquisas do FMI, um estudo cujo título é enigmático,
“Erros de Projecção de Crescimento e Multiplicadores Fiscais”, mas cujo
conteúdo é muito concreto.
A pesquisa dá prosseguimento e confirmação a um estudo prévio,
divulgado no World Economic Outlook em Outubro passado, que mostrava que
os planos de austeridade e o rigor orçamentário na zona do euro, feitos
de maneira violenta, tiveram mais impacto negativo no crescimento do
que tinha sido inicialmente estimado que teriam.
O estudo se concentra na relação entre a redução do deficit público e
o crescimento económico. Os modelos usados pela troika (BCE, UE, FMI)
para os programas de ajustes dos países que usam o euro se basearam em
um multiplicador de cerca de 0,5: ou seja, eles estimavam que, para cada
1 ponto de corte no deficit, haveria uma diminuição no crescimento de
cerca de 0,5 ponto.
O estudo de Blanchard-Leigh conclui que "os multiplicadores
implícitos nas previsões foram subestimados, em média, em cerca de uma
unidade".
A diferença entre 0,5 e 1,5 é compreensivelmente considerável.
Significa que, para cada corte de 1 ponto no deficit, o crescimento caía
1,5 ponto. Este erro tem consequências dramáticas.
Para explicar o engano, Blanchard enumera uma série de factores
especiais da Grande Recessão: as taxas de juros já próximas de zero, e,
portanto, a impossibilidade de se contrabalançar a acção fiscal com a
política monetária; um sistema financeiro ineficiente, que fez o consumo
depender mais da renda actual do que da futura; a presença de grandes
recursos não utilizados; e a sincronização continental das políticas de
ajuste. Todos estes factores próprios da crise do euro afectaram as
estimativas dos multiplicadores.
A admissão do erro daria razão aos muitos opositores das políticas de
ajuste? É claro que não. O problema do ajuste das finanças públicas
continua sendo essencial em quase todas as economias avançadas. O que
ainda deve ser determinado direito é o ritmo de uma recuperação adequada
e sustentável.
Em outras palavras, a consolidação das contas públicas deve ter o
ritmo de uma maratona, não de uma corrida de cem metros. O FMI se tornou
porta-voz desta nova consciência dentro da troika, para que haja
programas credíveis no médio prazo.
in