domingo, 20 de janeiro de 2013

Se temos os mesmos pais, porque não podemos ser irmãos?

Dom Paolo Pezzi descreve a sua experiência como italiano que se tornou arcebispo de Moscovo

Luca Marcolivio

ROMA, Sexta-feira, 18 January 2013
 
Durante uma curta passagem por Roma, onde participa da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho Cor Unum, dom Paolo Pezzi, arcebispo de Moscovo, conversou com ZENIT sobre o ecumenismo e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, recém-aberta.

ZENIT: Excelência, como foi que aconteceu a sua nomeação como arcebispo de Moscovo?
Dom Pezzi: Eu estava em missão em Moscovo fazia quatro anos, depois de uma missão na Sibéria que tinha durado cinco. Era 2007 e fazia um ano que eu tinha sido nomeado reitor do seminário católico de São Petersburgo.

ZENIT: Para um italiano, como é dirigir a diocese mais importante do maior país ortodoxo do mundo?
Dom Pezzi: Para mim, foi a aceitação humilde do pedido do papa Bento XVI. Na minha vida, eu aprendi que, ao dizer sim a Deus, nós nunca erramos. As circunstâncias da vida mudam, mas o importante é responder sim a Cristo quando ele chama. A Rússia é realmente um grande país e, de fato, a religião mais difundida lá é o cristianismo ortodoxo. Para mim, que sou de origem italiana, de história italiana, foi acima de tudo uma abertura humilde para o mistério de Deus. Quando eu fui nomeado bispo católico de Moscovo, um jovem católico me perguntou se eu não me sentia estrangeiro, como italiano e como católico em Moscovo. E eu disse que, com Jesus Cristo, eu não me sinto estrangeiro. E que sem Cristo eu seria estrangeiro até para mim mesmo. Durante esses anos todos, eu tentei não me esquecer nunca desta verdade.

ZENIT: A Rússia pós-comunista é um repositório de contradições. Entre os mais angustiantes, está a corrupção, o alcoolismo e, acima de tudo, o colapso demográfico. Por outro lado, há um renascimento religioso, depois de anos de perseguição comunista. Este último elemento faz parte da sua experiência pastoral?
Dom Pezzi: Com certeza, o renascimento religioso é mesmo uma característica da Rússia pós-comunista. Eu diria que ele acontece principalmente como uma pergunta fundamental sobre o sentido da vida e da morte, o sentido de ir para o trabalho, de estudar com empenho. Esta questão profunda do sentido diz respeito às relações que vão sendo estabelecidas, à criação de uma família, aos filhos. Enfim, tem a ver com o destino que o homem não pode evitar. E eu gostaria de destacar que o que me deixa mais espantado, nas pessoas que eu encontro, especialmente nos jovens, é o fato de que nenhuma situação consegue eliminar a dimensão da expectativa, da promessa que é a vida de cada ser humano. Essa espera só pode ser saciada por Cristo, que é o destino do homem feito homem.
ZENIT: Como o senhor lida na pastoral diária com o diálogo entre católicos e ortodoxos?
Dom Pezzi: Não dá para não ter diálogo com o cristianismo ortodoxo. O diálogo está presente nas minhas orações e na minha oferta diária, na minha missão, no encontro com as pessoas. É claro que não é uma questão de só falar disso, de agir apenas para isso, mas ele está sempre presente no meu coração. E existem, é claro, as belas oportunidades de encontro com bispos ortodoxos, sacerdotes e leigos. Eu tenho que dizer que a tendência destas reuniões é o testemunho, que é sempre o pano de fundo. O testemunho é a maior força do fiel cristão: um homem entusiasta, feliz e grato pela fé se torna um factor de conversão a Cristo.
ZENIT: Na agenda deste pontificado, o papa Bento XVI dá um grande destaque ao ecumenismo. Quais têm sido os resultados, na sua opinião, dentro do âmbito ortodoxo?
Dom Pezzi: Eu acho que a paixão pela unidade é um dos traços mais comoventes do pontificado de Bento XVI. Pessoalmente, isso me tocou desde o início. E eu me lembro com particular emoção da celebração das vésperas, durante o Sínodo dos Bispos de 2008, junto com o patriarca ecuménico Bartolomeu de Constantinopla, quando o papa perguntou: "Mas se nós temos os mesmos pais, por que não podemos ser irmãos?". Na ortodoxia russa, a paixão deste papa por Cristo é tocante e muito levada em conta. Basta lembrar algumas das mensagens que o papa e o patriarca Cirilo intercambiaram nos últimos anos.

ZENIT: Está começando agora a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Como o senhor vai vivê-la?
Dom Pezzi: Eu estou em Roma porque fui convidado pelo cardeal Robert Sarah para participar da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho Cor Unum. Na Rússia, nós vamos ter uma série de iniciativas durante esta semana com o objetivo de enfatizar a importância da oração para a unidade dos cristãos. Eu acho que a ideia básica deste ano foi muito bem identificada, recentemente, pelo cardeal Koch, quando ele falou do ecumenismo, da unidade dos cristãos, não como uma ilusão, mas como uma promessa, como um acontecimento pelo qual Cristo rezou nos últimos momentos da sua vida terrena, no seu último encontro com os apóstolos, antes de ser levado para a cruz. Nós temos que pedir para nós mesmos o dom da unidade. Pessoalmente, eu vou participar de dois momentos de oração, junto com outros cristãos, um no dia 21, em Moscovo, e o outro no dia 24, em São Petersburgo. Um amigo me disse esses dias, relatando as palavras de um grande pai espiritual: "As grandes obras são feitas de joelhos". Obrigado por tudo o que vocês também fazem e oferecem pela unidade dos cristãos.


in