sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Uma embaixadora muçulmana do Paquistão, julgada por defender a Asia Bibi

Sherry Rehman criticou a lei da blasfémia

Actualizado 22 Janeiro 2013

Ethel Bonet / La Razón


O Tribunal Supremo do Paquistão ordenou a reabertura de um caso de blasfémia contra a embaixadora paquistanesa nos Estados Unidos, Sherry Rehman.

A denúncia foi interposta em Fevereiro de 2011 por um comerciante de Multan, Faheem Akhtar Gull, que acusou a embaixadora – que por então era parlamentar – de ter cometido blasfémia num programa de televisão, ao criticar a lei sobre a blasfémia.

Rehman era conhecida pela sua forte oposição a esta controvertida lei da que é vítima Asia Bibi, condenada à morte por blasfémia. A ex parlamentar do governante Partido Popular do Paquistão (PPP) pediu a revisão da lei sobre a blasfémia no Parlamento, mas o debate da moção foi suspenso depois dos trágicos assassinatos do governador de Punjab, Salman Taseer e do ministro cristão de Minorias religiosas, Shahbaz Bhatti, ambos defensores da liberdade de Bibi.

Agora Rehman poderia ser levada ante a Justiça e condenada com base no artigo 295c do Código Penal, que castiga com a morte ou a cadeia perpétua os insultos ao profeta Maomé. A inesperada petição do Supremo reabre as velhas cicatrizes desta injusta lei, que se incorporou no Código Penal do Paquistão durante a ditadura do General Zia-ul-Haq, na década dos 70.

Activistas e defensores dos direitos humanos consideram «injusta» e «discriminatória» esta lei muçulmana, que em muitas ocasiões serve de perseguição contra as minorias religiosas no Paquistão. Ante a decisão do Supremo de readmitir as acusações contra Rehman, acusada de ter ofendido o Islão, muitos vêem por detrás da ordem judicial uma motivação política.

«Está claro que o Supremo continua com a sua caça às bruxas contra os cargos do Governo do PPP», declara uma fonte diplomática ocidental a LA RAZÓN. «É absurdo nestes momentos de crise política avivar as acusações de violência sectária no Paquistão», denuncia o diplomata. Para a comunidade cristã, a decisão da Corte Suprema foi um balde de água fria.

«Estamos desconsertados e muito pesarosos pelo ocorrido. Se a Justiça, que é um órgão independente, não está com os cristãos, quem nos vai apoiar?», lamentou Joseph Francis, director do Centro para Ajuda e Acolhimento Legal (CLAAS, nas suas siglas em inglês). Este advogado paquistanês viajará a Washington na próxima semana para reunir-se com Rehman e oferecer-lhe aceitar a defesa. «O Supremo não pode ordenar a reabertura do caso se este foi encerrado pelo Tribunal Superior de Lahore», denunciou Francis em referência à denúncia contra a embaixadora que foi retirada pela Policia de Multán e portanto, arquivada no tribunal de Lahore.

«Debaixo de que procedimento legal o Supremo exige a reabertura do caso, a denúncia foi arquivada por falta de provas?», Questiona o advogado cristão. Francis critica o Tribunal Supremo por «ter cedido à pressão dos islamitas». Grupos liberais paquistaneses estão alarmados pela crescente influência dos islamitas de extrema-direita no país e culpam as autoridades por condescendência.

«Não podemos deixar que as ameaças dos extremistas devolvam o país à Idade Média. Demasiado sangue correu em nome de Alá e não podemos deixar que os extremistas ganhem a batalha», denuncia Liaqad Banuri da Organização de Direitos Humanos do Paquistão. Para Banuri, um caso de blasfémia contra um político de alto perfil como Rehman só «dará uma má impressão do Paquistão ao resto do mundo».


in