EUA: novo dossiê revela impacto sobre a fé nas famílias divididas
John Flynn, LC
ROMA, Tuesday, 22 Janeiro 2013
As
consequências sociais negativas do divórcio são bem conhecidas, mas uma
nova pesquisa mostra que ele também leva à diminuição da prática
religiosa.
Na semana passada, o Instituto de Valores Americanos
publicou o dossiê “O modelo da família modela a fé? Os impactos das
mudanças da família desafiam as Igrejas”, apresentando os resultados de
uma pesquisa feita com estudantes.
A cada ano, cerca de um milhão de crianças vivem a experiência do
divórcio dos pais, diz o relatório. Um quarto dos jovens adultos vem de
famílias divorciadas.
Os autores do estudo dizem que os filhos de divorciados se tornam
menos religiosos quando chegam à idade adulta do que aqueles que crescem
em famílias unidas. Enquanto dois terços das pessoas que cresceram em
famílias intactas afirmam ser muito religiosas, apenas metade dos que
têm pais divorciados diz a mesma coisa.
Em termos de prática religiosa, mais de um terço dos adultos jovens
de famílias unidas é praticante, contra um quarto das pessoas que vêm de
lares desfeitos.
De acordo com o relatório do Instituto de Valores Americanos, a
influência mais significativa para os jovens em termos de fé e prática
religiosa vem dos pais. "Os pais desempenham um papel vital na
influência religiosa sobre os filhos após o divórcio, especialmente em
uma cultura em que os compromissos associativos e outras formas de
participação cívica não são mais uma referência normativa, como ocorria
no passado", diz o dossiê.
Falta de apoio
Uma das razões para os filhos de pais divorciados serem menos
praticantes, de acordo com o estudo, é o fato de que, na hora da
separação dos pais, dois terços dos entrevistados afirmarem que ninguém
da comunidade religiosa lhes ofereceu qualquer apoio.
Outra razão é o fato de o divórcio provocar um declínio na frequência
das crianças à igreja. O número de adultos crescidos em famílias
divididas que são frequentadores regulares da igreja é a metade do
número dos filhos de famílias unidas que praticam a religião.
Quem passou pelo divórcio dos pais também afirma ter encontrado menos
referências espirituais e religiosas na família. Apenas um terço dos
pais divorciados encorajou os filhos a praticarem a fé, contra dois
terços das famílias unidas.
O divórcio tem impacto directo sobre a fé como tal, dizem os
entrevistados, alguns dos quais interpretam o divórcio dos pais como um
dano aos seus valores espirituais essenciais. Estes são mais propensos a
se definir como "espirituais" em vez de "religiosos".
Outro estudo conclui que os filhos de famílias desestruturadas são
menos interessados em buscar um sentido, a verdade ou uma relação com
Deus, além de menos inclinados a pensar que as instituições religiosas
podem ajudá-los.
Os pesquisadores avaliaram o impacto do chamado "bom divórcio",
aquele que acontece de modo amigável ou sem conflitos. O resultado
indica que os jovens criados em famílias felizes e unidas têm o dobro de
propensão à prática religiosa dos que os que experimentaram um "bom
divórcio" dos pais. O dossiê enfatiza: "Embora o chamado ‘bom divórcio’
seja melhor que um divórcio conflitivo, ele continua não sendo um bem".
Os filhos de pais que se divorciaram amigavelmente, aliás, podem até
sofrer mais do que aqueles cujas famílias enfrentaram altos níveis de
conflito, já que podem interpretar que, se pessoas amáveis não
conseguiram realizar um casamento feliz, talvez a própria instituição do
casamento seja a culpada, e não o comportamento dos pais.
As igrejas devem envolver-se mais com os pais divorciados e com seus
filhos, pede o relatório. Um pastor protestante oferece sugestões a este
respeito. Pastores e líderes juvenis deveriam trabalhar mais para
determinar modelos de fé, diz o pastor, já que o divórcio complica o
papel que os pais normalmente desempenham. Também é importante ouvir
quem sofreu um divórcio e promover um ambiente em que eles possam
questionar e tentar descobrir como lidar com o que aconteceu.
A igreja pode representar um importante santuário e um espaço
acolhedor para os jovens divididos entre "a casa da mãe" e "a casa do
pai". "Para um filho de divorciados, a igreja pode ser um lugar estável
para a recepção e um santuário para a adoração, para os sacramentos, a
música, o estudo, a socialização e a diversão", acrescenta o pastor.
“Não é apenas o divórcio que deve ser discutido”, prossegue um dos
autores do dossiê. “Nós sabemos pouco também sobre as consequências para
a fé dos filhos de casais que coabitam, dos nascidos por inseminação
artificial, dos que são criados por casais do mesmo sexo”.
O dossiê destaca o quanto é importante para a sociedade a instituição
da família fundamentada na união estável entre um homem e uma mulher.
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