quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Irmã Jeanne Bossé, religiosa de 96 anos, autora de «best seller» no Japão

Triunfa entre os jovens ateus

A monja canadiana das Irmãs de Nossa Senhora incorporou num livro o seu grande conselho para a vida: sorrir sempre.

Actualizado 15 Janeiro 2013

C.L. / ReL


Shiawase-wa Hohoemi-ga Tsuretekuru-no: que, em japonês, significa Sorrir nos faz felizes. Assim se intitula um dos best-sellers da moda no país do sol nascente (quatro edições e 19.000 exemplares em poucas semanas). E o chamativo não está nem nessa frase nem no facto de que triunfe em vendas um livro considerado de auto-ajuda, género em alta. O curioso é que a sua autora, Jeanne Bossé, é uma religiosa canadiana de nada menos que 96 anos.

Música, biblista, tutora
Nasceu em Quebec em 20 de Agosto de 1916 e depois de ingressar na congregação das Irmãs de Nossa Senhora, foi destinada ao Japão em 1947. Durante onze anos ensinou música, depois foi durante dezasseis anos tutora numa residência universitária em Fukushima. Em 1987 foi destinada como superiora de um convento em Kita-Kyushu e depois de dez anos nessa função, desde 1997 ensina as Sagradas Escrituras, além de tocar o órgão na missa diária do seu convento em Chofu, uma cidade da área metropolitana ocidental de Tóquio.

A beleza da vida e dos demais
A ideia do livro surgiu de uma das suas ex-alunas em Fukushima, Eri Kamata, que tem agora 52 anos mas não esqueceu o segredo da alegria que lhes transmitia a sua mentora na residência e quis difundi-lo. Os pensamentos que se recolhem em Sorrir nos faz felizes procedem das conversas de Eri com a madre Jeanne, assim como do mesmo bloco de notas desta.

E qual é a chave do seu êxito? Trata-se de conselhos para descobrir a beleza na vida e nos demais. "Não fiz nada especial, surpreendeu-me saber que se havia planeado a sua publicação", confessa a The Asahi Shimbun: "Peço para que seja útil aos leitores e lhes leve esperança".

O livro abre-se com um convite a sorrir em todas as ocasiões. E debulha pensamentos como os seguintes: "O teu rosto mudará segundo o que haja na tua mente. O teu rosto brilhará se sabes apreciar como novo algo que antes consideravas assumido. Limpa o teu coração todos os dias para que não acumule porcaria. Deleita-te nas coisas pequenas. É importante conservar o sentido do maravilhoso"...


A Irmã Jeanne, na época em que chegou ao Japão, no fim da Segunda Guerra Mundial.
Impacta nos jovens ateus
Uma mensagem tão simples calou fundo num público leitor muito determinado: os jovens ateus. "Este êxito é sinal de uma demanda do infinito", afirma Sara, uma deles, a Tempi: "Chamou-me a atenção que tanta gente ateia se interessasse pelo livro de uma monja católica de 96 anos que se supõe não teria nada que ver connosco, os jovens japoneses. A mim, que era ateia e me converti há seis anos, parece-me evidente que situar-se perante a vida como a irmã Jeanne exige um rosto que tenha integrado os fragmentos, exige a fé. Provavelmente para muitos leitores o rosto e a ajuda são agora os da irmã, mas este êxito faz-me questionar quantas expectativas estão nascendo entre a minha gente agora que o materialismo ateu está em crise".

Monja tecnológica aos 90
Á Madre Jeanne Bossé a operaram ao joelho com 89 anos e no ano seguinte aprendeu a manejar um computador. A sua vida foi de contínua aprendizagem: "Deus me chamou, Deus trabalhou o meu coração... Quando vim não sabia uma palavra de japonês, e todavia continuo aprendendo-o".

"Encontres-te com quem te encontres na vida e já esbarres com prazeres ou com dificuldades, tudo o que sucede na vida tem um significado importante", acrescenta numa entrevista que difunde a sua própria congregação: "Se endureces o teu coração e evitas o contacto com as pessoas, então não sucede nada. Tendemos a cometer reiteradamente este tipo de erro. Os seres humanos não podem viver sós. Estamos feitos para amar-nos uns aos outros. Quando amas, valorizas o contacto com as pessoas e as aceitas com um coração quente e sorridente".

Cartas de amor
A irmã Jeanne confessa que, ainda que não esteja casada, escreve todos os dias cartas de amor: "Cartas de amor a Deus, com quem vivo [ri-se]. Nas cartas agradeço a Deus as bênçãos e o sustento do dia; peço-lhe que bendiga as pessoas com quem me encontrei nesse dia; e reflicto sobre mim mesma e a minhas imperfeições como ser humano. Aqui vivo com mais de vinte irmãs, mas não posso dizer que as ame a todas por igual, assim Lhe peço que me ajude a esforçar-me para amá-las a todas por igual. Inclusive se uma parte de ti está ressentida e não pode perdoar, Deus te perdoa pelos teus esforços de ser melhor pessoa. Sempre está pendente de nós com o seu enorme amor".

Esta é a filosofia da Madre Bossé, princípios que acompanha com a sua senha de identidade: o sorriso (Hohoemi) convertida em método com o qual, quase centenária e sem esperá-lo, está conquistando o Japão.


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