Um milhão de pessoas marcha em Paris em defesa da família tradicional
Anita Sanchez Bourdin
PARIS, Quarta-feira, 16 Janeiro 2013
"Na
Espanha, não acreditávamos que os franceses iriam reagir", diz Serena
Asunción, que, apesar do frio e da chuva, não desistiu de ficar no Champ
de Mars, microfone na mão, para entrevistar os participantes da Manif Pour Tous, realizada em Paris neste domingo, 13. A iniciativa francesa surpreendeu no exterior.
A
"Manifestação para Todos" reuniu cerca de um milhão de pessoas para
protestar contra o projecto do governo de François Hollande, "que quer
abrir o casamento aos casais do mesmo sexo, como afirma o título oficial
do texto", discutido pela Comissão das Leis da Assembleia Nacional
francesa.
Mas por que tantos franceses foram juntos para as ruas? Com os pés na
lama, a jornalista espanhola está ainda mais espantada com a presença,
no evento, de um grupo de pessoas homossexuais, entre elas um corajoso
professor espanhol, Philippe Ariño, que publicamente afirmou “praticar a
abstinência” e “viver uma fé intensa em Jesus e um profundo amor pela
Igreja”.
Significativa também era a presença dos Poissones Roses
(Peixes Rosa) e da associação Mais Gays sem Casamento, de Xavier
Bongibault, além de muitos representantes de diferentes religiões,
cristãos, judeus, muçulmanos, prontos para protestar principalmente
contra a adopção de crianças por casais homossexuais.
A multidão ouviu com atenção a leitura da carta ao presidente François Hollande.
Quando centenas de milhares de pessoas cantam "Hollande, a tua lei não é
bem-vinda", com respeito, mas com determinação, é porque algo
importante está acontecendo. As convicções pessoais estão alçando a voz.
O animador passa o microfone para diversos representantes da
multidão. O carisma de Frigide Barjot, cuja energia iria varar a noite,
cria vínculos de amizade que fazem dançar e dar as mãos. É um protesto
contra um projecto de lei, mas sem violência.
Nenhum slogan de partido é destacado; é apenas o anúncio de uma
humanidade comum, unida na diversidade: homens, mulheres, crentes,
não-crentes, jovens e idosos, pessoas em cadeira de rodas ou de pé,
famílias, solteiros, funcionários, cidadãos. Todos mostrando juntos que a
"diversidade" não é fácil, mas é uma realidade fértil e educativa.
"Nós não organizamos isto junto com as religiões", disseram os
organizadores. "Pelo contrário, o nosso slogan é: leigos e religiosos,
venham como vocês são!".
Quando conversei com um viúvo de 90 anos, que não foi ao evento, mas
acompanhou tudo pela televisão, e lhe contei que eu iria de bicicleta
para fotografar e postar minhas fotos na versão francesa de ZENIT, mas
que eu não escreveria nada, ele respondeu: "Mas temos que escrever
alguma coisa".
E o que poderíamos escrever? O governo francês conhece os números.
Isto é essencial. A bola está no campo deles. Quem marchou não vai
baixar a guarda. Esses também conhecem os números. Temos pontos de
referência, da JMJ de 1997 ao concerto de Johnny. Temos as fotos tiradas
do alto da Torre Eiffel.
A Manif ultrapassou um milhão de manifestantes, apesar do
nervosismo após os recentes ataques em Mali e na Somália, e apesar do
céu cinzento, do frio, da chuva, do inverno.
O que mais eu posso escrever? Que a primeira bandeira que vi
desfilando na Place d'Iena, sob a estátua equestre de George Washington,
trazia escrito em letras garrafais: "Matrimoniófilo, e não homofóbico".
E a primeira que vi no Champ de Mars: "Não destruam as referências".
"Papai + Mamãe", a referência para toda criança, é o que o presidente da
Mais Gays Sem Casamento repetia: "Eu tenho sorte de ter um pai e uma
mãe".
Todo mundo diz, em suma, tanto em Paris quanto em Roma ou em qualquer
outro lugar, que aqueles valores em que a sociedade se baseia “não são
negociáveis”. O contrário seria um "gol contra".
O site da Manif, hoje, diz simplesmente: "Éramos um milhão! Obrigado!".
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