sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Manifestação para todos

Um milhão de pessoas marcha em Paris em defesa da família tradicional

Anita Sanchez Bourdin

PARIS, Quarta-feira, 16 Janeiro 2013

"Na Espanha, não acreditávamos que os franceses iriam reagir", diz Serena Asunción, que, apesar do frio e da chuva, não desistiu de ficar no Champ de Mars, microfone na mão, para entrevistar os participantes da Manif Pour Tous, realizada em Paris neste domingo, 13. A iniciativa francesa surpreendeu no exterior.

A "Manifestação para Todos" reuniu cerca de um milhão de pessoas para protestar contra o projecto do governo de François Hollande, "que quer abrir o casamento aos casais do mesmo sexo, como afirma o título oficial do texto", discutido pela Comissão das Leis da Assembleia Nacional francesa.

Mas por que tantos franceses foram juntos para as ruas? Com os pés na lama, a jornalista espanhola está ainda mais espantada com a presença, no evento, de um grupo de pessoas homossexuais, entre elas um corajoso professor espanhol, Philippe Ariño, que publicamente afirmou “praticar a abstinência” e “viver uma fé intensa em Jesus e um profundo amor pela Igreja”.

Significativa também era a presença dos Poissones Roses (Peixes Rosa) e da associação Mais Gays sem Casamento, de Xavier Bongibault, além de muitos representantes de diferentes religiões, cristãos, judeus, muçulmanos, prontos para protestar principalmente contra a adopção de crianças por casais homossexuais.

A multidão ouviu com atenção a leitura da carta ao presidente François Hollande.
 
Quando centenas de milhares de pessoas cantam "Hollande, a tua lei não é bem-vinda", com respeito, mas com determinação, é porque algo importante está acontecendo. As convicções pessoais estão alçando a voz.

O animador passa o microfone para diversos representantes da multidão. O carisma de Frigide Barjot, cuja energia iria varar a noite, cria vínculos de amizade que fazem dançar e dar as mãos. É um protesto contra um projecto de lei, mas sem violência.

Nenhum slogan de partido é destacado; é apenas o anúncio de uma humanidade comum, unida na diversidade: homens, mulheres, crentes, não-crentes, jovens e idosos, pessoas em cadeira de rodas ou de pé, famílias, solteiros, funcionários, cidadãos. Todos mostrando juntos que a "diversidade" não é fácil, mas é uma realidade fértil e educativa.

"Nós não organizamos isto junto com as religiões", disseram os organizadores. "Pelo contrário, o nosso slogan é: leigos e religiosos, venham como vocês são!".

Quando conversei com um viúvo de 90 anos, que não foi ao evento, mas acompanhou tudo pela televisão, e lhe contei que eu iria de bicicleta para fotografar e postar minhas fotos na versão francesa de ZENIT, mas que eu não escreveria nada, ele respondeu: "Mas temos que escrever alguma coisa".

E o que poderíamos escrever? O governo francês conhece os números. Isto é essencial. A bola está no campo deles. Quem marchou não vai baixar a guarda. Esses também conhecem os números. Temos pontos de referência, da JMJ de 1997 ao concerto de Johnny. Temos as fotos tiradas do alto da Torre Eiffel.

A Manif ultrapassou um milhão de manifestantes, apesar do nervosismo após os recentes ataques em Mali e na Somália, e apesar do céu cinzento, do frio, da chuva, do inverno.

O que mais eu posso escrever? Que a primeira bandeira que vi desfilando na Place d'Iena, sob a estátua equestre de George Washington, trazia escrito em letras garrafais: "Matrimoniófilo, e não homofóbico". E a primeira que vi no Champ de Mars: "Não destruam as referências". "Papai + Mamãe", a referência para toda criança, é o que o presidente da Mais Gays Sem Casamento repetia: "Eu tenho sorte de ter um pai e uma mãe".

Todo mundo diz, em suma, tanto em Paris quanto em Roma ou em qualquer outro lugar, que aqueles valores em que a sociedade se baseia “não são negociáveis”. O contrário seria um "gol contra".

O site da Manif, hoje, diz simplesmente: "Éramos um milhão! Obrigado!".


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