O sociólogo Paolo Sorbi
Actualizado 18 Janeiro 2013
H. Sergio Mora / Zenit
Lotta continua, Berlinguer, os movimentos estudantis, o partido comunista e a ideologia marxista. Mas também Radio Maria, a Conferência Episcopal Italiana, o Movimento pela Vida, a defesa dos valores cristãos e da família natural e a afinidade intelectual com o magistério de Bento XVI.
A vida do sociólogo Paolo Sorbi é uma contínua revolução sempre em favor dos grandes ideais fundamentais da humanidade, “conquistados” através dos protestos de 68 ou das doutrinas sociais da Igreja católica.
E hoje, que abandonou a militância porque “sentou a cabeça”, continua fazendo ouvir a sua voz, expressando um pensamento livre sobre a situação política e social actual, italiana e internacional, através do chamado grupo de “marxistas- ratzingerianos”, partilhado com os colegas Pietro Barcelona, Mario Tronti e Giuseppe Vacca.
O professor Sorbi trata uma série de temas como a “Manif pour tous”, que se realizou este domingo em França.
- Mais de 800.000 pessoas manifestaram-se no domingo 13 de Janeiro em Paris, para protestar contra a proposta de lei do governo Hollande sobre o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo, e a possibilidade de que adoptem menores. Qual é a sua opinião?
- Considero muito original que uma grande manifestação sobre ideais ou valores emerja de uma situação europeia de grande depressão social e de mobilidade.
Esta manifestação é oxigénio antes que tudo pela quantidade de pessoas e a originalidade laica que participou, não homofóbica e anti radical, ou seja contra a proposta carente de valores do partido socialista de Hollande.
Um vento muito positivo porque no seu interior tem movimentos homossexuais que não querem saber nada do matrimónio gay – que seja dito de passagem é uma contradição de termos - além de tantas forças laicas, e aproximadamente 27 expoentes do partido socialista que não aceitam de olhos cerrados esta proposta nihilista do partido do presidente.
E para concluir, foi muito importante a presença forte de islâmicos, muçulmanos e da comunidade judaica com a presença do grande rabino de França, Gilles Bernheim.
- Este último confirmou que não foi um protesto devido à “beataria” de católicos, como a opinião pública e muitos meios de comunicação sugerem, mas sim a afirmação de valores universais que vão mais além do próprio credo, verdade?
- Seguramente, a “Manif pour tous” realiza-se a nível laico e racional, onde não entra directamente o pensamento católico. Havia ali católicos enquanto cidadãos e homens de boa vontade, e da mesma maneira islâmicos, judeus, etc. Os valores que se questionam não são exclusivos da fé ou da religião a que cada um pertence, mas sim um que tem um carácter antropológico e humano. A proposta de lei é uma instrumentalização da cultura maioritária que se difundiu na Europa do tipo radical-nihilista, ou seja sem valores.
Temos que entender que somos uma minoria, mais além das 800.000 pessoas presentes na manifestação, que se bem que é um número elevado, não o é para uma eleição ou como número de votos.
Como dizia Pietro Nenni, “Atenção em não confundir a praça com o voto”.
- Você disse que matrimónio gay é uma contradição de temos. Porquê?
- No sentido de que se duas pessoas homossexuais querem viver uma vida comum, é lícito, mesmo se pessoalmente não estou de acordo e não partilho a homossexualidade. Mas transportar isto à ideia de matrimónio, absolutamente não. É uma contradição e está previsto também em França que num matrimónio não haja o ´progenitor 1´ e o ´progenitor 2´ como refere o texto de Hollande, mas sim por um homem e uma mulher e orientado à procriação. Isto o sublinha bem, sempre em França, o Direito Civil. É um princípio natural que não tem que ser deformado por projectos ou desejos de uma comunidade minoritária como o é a homossexual.
- Então, como explica uma recente sentença do Tribunal de Recurso de Itália, segundo a qual um menor pode crescer de modo equilibrado numa família homogenitorial?
- A queremos explicar como algo irracional e uma má interpretação das investigações e das sondagens por parte dos magistrados que, como todos, podem também equivocar-se.
- E sobre as próximas eleições em Itália, um católico por quem deveria votar?
- Liberdade de consciência! Um católico deve mostrar a sua identidade, não integrista mas sim do seu próprio ser cristão.
Não estou de acordo com a unidade política dos católicos, mas partilho a ideia de que eles podem estar dispersos em todos os lugares.
- Você é parte do chamado grupo de “marxistas ratzingerianos”. De que se trata exactamente?
- Explico como primeira coisa que esta é uma simpática etiqueta de “marketing político” que nos deu o diário Il Corriere della Sera, que entretanto não reflecte a realidade.
Somos um grupo de quatro pessoas, provenientes do Partido Comunista, que testemunharam, três como não crentes e eu como crente, desde sempre o primado da pessoa humana, mesmo nas décadas nas quais havíamos aderido à militância activa.
Chamam-nos “ratzingerianos” porque estimamos, eu por minha fé, os meus amigos pelo respeito à sua humanidade, a elaboração doutrinal e antropológica de Joseph Ratzinger.
Em particular pensamos que a relação entre fé e razão, elaborada por este grande intelectual europeu que é o santo padre, assim como as suas reflexões sobre a actualidade de uma crise económica, formulada na Caritas in Veritate, são uma contribuição fundamental às perspectivas futuras da humanidade e da nova evangelização.
- Você tem uma história emblemática, a de um comunista de extrema-esquerda que encontrou as respostas da revolução pela que lutou nos grandes ideais cristãos. Como sucedeu isto?
- Digamos que sucedeu quase o contrário, ou seja que um cristão chegou à militância activa.
Sou o clássico filho dos anos 60 e 70, que militaram até 1989 na esquerda, depois de um longo período de ´reflexão´. Politiquei-me quando tinha 17-18 anos, naquela parte da esquerda que se definia católica comprometida, na época do pré-concilio, sobre temas sociais como os pobres, os movimentos de libertação nacional, a solidariedade, etc. Tudo debaixo o magistério de grandes personalidades, como o professor La Pira, don Lorenzo Milani, e sobretudo João XXIII, de quem tenho grande nostalgia.
Sou daquela geração que deu lugar ao clima do Vaticano II e que criou ou participou em movimentos como o dos estudantes de Trento, que a continuação foi o extremismo extra parlamentário de esquerda com Luta Continua, e mo final com o Partido Comunista
- E depois que sucedeu?
- O comunismo perdeu. Eu não entrei no mecanismo perverso da geração dos comunistas que se voltaram para o Partido Socialista, Democráticos de Esquerda, e coisas “radicais liberais” que não partilhava, especialmente pela ruptura com os valores da pessoa humana.
Actualizado 18 Janeiro 2013
H. Sergio Mora / Zenit
Lotta continua, Berlinguer, os movimentos estudantis, o partido comunista e a ideologia marxista. Mas também Radio Maria, a Conferência Episcopal Italiana, o Movimento pela Vida, a defesa dos valores cristãos e da família natural e a afinidade intelectual com o magistério de Bento XVI.
A vida do sociólogo Paolo Sorbi é uma contínua revolução sempre em favor dos grandes ideais fundamentais da humanidade, “conquistados” através dos protestos de 68 ou das doutrinas sociais da Igreja católica.
E hoje, que abandonou a militância porque “sentou a cabeça”, continua fazendo ouvir a sua voz, expressando um pensamento livre sobre a situação política e social actual, italiana e internacional, através do chamado grupo de “marxistas- ratzingerianos”, partilhado com os colegas Pietro Barcelona, Mario Tronti e Giuseppe Vacca.
O professor Sorbi trata uma série de temas como a “Manif pour tous”, que se realizou este domingo em França.
- Mais de 800.000 pessoas manifestaram-se no domingo 13 de Janeiro em Paris, para protestar contra a proposta de lei do governo Hollande sobre o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo, e a possibilidade de que adoptem menores. Qual é a sua opinião?
- Considero muito original que uma grande manifestação sobre ideais ou valores emerja de uma situação europeia de grande depressão social e de mobilidade.
Esta manifestação é oxigénio antes que tudo pela quantidade de pessoas e a originalidade laica que participou, não homofóbica e anti radical, ou seja contra a proposta carente de valores do partido socialista de Hollande.
Um vento muito positivo porque no seu interior tem movimentos homossexuais que não querem saber nada do matrimónio gay – que seja dito de passagem é uma contradição de termos - além de tantas forças laicas, e aproximadamente 27 expoentes do partido socialista que não aceitam de olhos cerrados esta proposta nihilista do partido do presidente.
E para concluir, foi muito importante a presença forte de islâmicos, muçulmanos e da comunidade judaica com a presença do grande rabino de França, Gilles Bernheim.
- Este último confirmou que não foi um protesto devido à “beataria” de católicos, como a opinião pública e muitos meios de comunicação sugerem, mas sim a afirmação de valores universais que vão mais além do próprio credo, verdade?
- Seguramente, a “Manif pour tous” realiza-se a nível laico e racional, onde não entra directamente o pensamento católico. Havia ali católicos enquanto cidadãos e homens de boa vontade, e da mesma maneira islâmicos, judeus, etc. Os valores que se questionam não são exclusivos da fé ou da religião a que cada um pertence, mas sim um que tem um carácter antropológico e humano. A proposta de lei é uma instrumentalização da cultura maioritária que se difundiu na Europa do tipo radical-nihilista, ou seja sem valores.
Temos que entender que somos uma minoria, mais além das 800.000 pessoas presentes na manifestação, que se bem que é um número elevado, não o é para uma eleição ou como número de votos.
Como dizia Pietro Nenni, “Atenção em não confundir a praça com o voto”.
- Você disse que matrimónio gay é uma contradição de temos. Porquê?
- No sentido de que se duas pessoas homossexuais querem viver uma vida comum, é lícito, mesmo se pessoalmente não estou de acordo e não partilho a homossexualidade. Mas transportar isto à ideia de matrimónio, absolutamente não. É uma contradição e está previsto também em França que num matrimónio não haja o ´progenitor 1´ e o ´progenitor 2´ como refere o texto de Hollande, mas sim por um homem e uma mulher e orientado à procriação. Isto o sublinha bem, sempre em França, o Direito Civil. É um princípio natural que não tem que ser deformado por projectos ou desejos de uma comunidade minoritária como o é a homossexual.
- Então, como explica uma recente sentença do Tribunal de Recurso de Itália, segundo a qual um menor pode crescer de modo equilibrado numa família homogenitorial?
- A queremos explicar como algo irracional e uma má interpretação das investigações e das sondagens por parte dos magistrados que, como todos, podem também equivocar-se.
- E sobre as próximas eleições em Itália, um católico por quem deveria votar?
- Liberdade de consciência! Um católico deve mostrar a sua identidade, não integrista mas sim do seu próprio ser cristão.
Não estou de acordo com a unidade política dos católicos, mas partilho a ideia de que eles podem estar dispersos em todos os lugares.
- Você é parte do chamado grupo de “marxistas ratzingerianos”. De que se trata exactamente?
- Explico como primeira coisa que esta é uma simpática etiqueta de “marketing político” que nos deu o diário Il Corriere della Sera, que entretanto não reflecte a realidade.
Somos um grupo de quatro pessoas, provenientes do Partido Comunista, que testemunharam, três como não crentes e eu como crente, desde sempre o primado da pessoa humana, mesmo nas décadas nas quais havíamos aderido à militância activa.
Chamam-nos “ratzingerianos” porque estimamos, eu por minha fé, os meus amigos pelo respeito à sua humanidade, a elaboração doutrinal e antropológica de Joseph Ratzinger.
Em particular pensamos que a relação entre fé e razão, elaborada por este grande intelectual europeu que é o santo padre, assim como as suas reflexões sobre a actualidade de uma crise económica, formulada na Caritas in Veritate, são uma contribuição fundamental às perspectivas futuras da humanidade e da nova evangelização.
- Você tem uma história emblemática, a de um comunista de extrema-esquerda que encontrou as respostas da revolução pela que lutou nos grandes ideais cristãos. Como sucedeu isto?
- Digamos que sucedeu quase o contrário, ou seja que um cristão chegou à militância activa.
Sou o clássico filho dos anos 60 e 70, que militaram até 1989 na esquerda, depois de um longo período de ´reflexão´. Politiquei-me quando tinha 17-18 anos, naquela parte da esquerda que se definia católica comprometida, na época do pré-concilio, sobre temas sociais como os pobres, os movimentos de libertação nacional, a solidariedade, etc. Tudo debaixo o magistério de grandes personalidades, como o professor La Pira, don Lorenzo Milani, e sobretudo João XXIII, de quem tenho grande nostalgia.
Sou daquela geração que deu lugar ao clima do Vaticano II e que criou ou participou em movimentos como o dos estudantes de Trento, que a continuação foi o extremismo extra parlamentário de esquerda com Luta Continua, e mo final com o Partido Comunista
- E depois que sucedeu?
- O comunismo perdeu. Eu não entrei no mecanismo perverso da geração dos comunistas que se voltaram para o Partido Socialista, Democráticos de Esquerda, e coisas “radicais liberais” que não partilhava, especialmente pela ruptura com os valores da pessoa humana.
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