segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Manifestação contra o matrimónio gay em Paris


A plataforma convocante diz não ter um propósito homofóbico

Protesto massivo em Paris contra a nova lei de matrimónio gay

Barbarin: "Mudar o sentido da palavra matrimónio é una grande violência para o povo"


Redacção, 13 de Janeiro de 2013 às 17:56

Centenas de milhares de pessoas desfilaram hoje em Paris numa grande manifestação que trata de forçar que o Governo francês dê marcha atrás no seu projecto de lei do matrimónio e adopção homossexual, que chegará ao Parlamento no fim do mês.

Os manifestantes, para quem se haviam fretado mais de 900 autocarros, começaram o percurso desde três pontos da capital às 12:00 GMT para convergirem na grande explanada do Campo de Marte, aos pés da Torre Eiffel, numa grande festa final.

A plataforma "Manif pour tous", que convocou este proteste e as marchas regionais celebradas em Novembro, conseguiu ter as ruas de rosa, branco e azul, as cores dos globos e cartazes distribuídos com mensagens como "o normal é um papá e uma mamã".

O grupo, que proibiu o desfile de slogans individuais de partidos e organizações religiosas, disse não ter um propósito homofóbico, mas sim lutar por que a união homossexual não seja chamada matrimónio, para que não se estenda às pessoas do mesmo sexo a filiação e para que o projecto seja submetido a referendo.

Na falta de cifras definitivas, os meios de comunicação calculam em "centenas de milhares" o número de pessoas que secundaram a proteste, enquanto a ministra dos Assuntos Sociais, Marisol Touraine, assegurou hoje na cadeia Canal+ que "sem dúvida houve menos" das 400.000 pessoas esperadas.

"Não importam só as cifras, mas sim a mensagem e a qualidade com que se transmite", indicou a co-fundadora de "Manif pour tous" e humorista, Frigide Farjot, preocupada pelo facto de que, no seu juízo, aos meninos se os prive "voluntariamente de um pai ou uma mãe" se se os considera por lei como nascidos de duas pessoas do mesmo sexo.

Por detrás do tema "todos nascidos de um homem e uma mulher", os manifestantes, que tem o apoio do principal partido da oposição de direita, a União por um Movimento Popular (UMP) e da igreja católica, marcharam desde três pontos distintos de Paris para convergir na grande explanada de Champ-de-Mars.

Os manifestantes, entre eles muitas famílias com os seus filhos, esvoaçando bandeiras rosas, cor eleita pelos organizadores, e faixas onde se podia ler, entre outras frases: "Todos guardiões do código civil", "Não há óvulos nos testículos" ou "duas vacas não fazem um vitelo".

O dirigente da UMP Jean-François Copé, que participou na manifestação, afirmou que esta "tem um valor de teste para François Hollande".

O arcebispo de Paris, monsenhor André Vingt-Trois não participou na marcha mas esteve presente num dos pontos de partida da mesma para manifestar o seu "apoio" e o seu "alento" aos manifestantes. "Quero manifestar o meu apoio e o meu alento aos organizadores e a que os franceses possam dizer o que pensam verdadeiramente" sobre o matrimónio homossexual, disse o bispo.

Por sua parte, o arcebispo de Lyon (este), o cardeal Philippe Barbarin, participou na manifestação e afirmou que "mudar o sentido da palavra matrimónio é uma grande violência para o povo".

"A manifestação será um êxito quando o presidente nos receba. É necessário que ele nos escute, que suspenda o projecto de lei e abra uns estados gerais para informar os franceses da mudança histórica sobre a filiação", estimou uma das representantes dos organizadores, a humorista Frigide Barjot.

Cento e quinze parlamentários assinaram um chamamento lançado por Henri Guaino (UMP) em favor à organização de um referendo sobre o matrimónio homossexual, segundo uma lista publicada pelo portal do periódico Journal du Dimanche.

O chamamento do Copé a manifestar-se não é aprovado unanimemente no seu partido. O ex-primeiro ministro François Fillon não participou na manifestação, mas trouxe um apoio aos opositores ao matrimónio homossexual ao exortar a Hollande a "não impor pela força" um projecto que "divide" o país.

Na Frente Nacional (extrema direita) as posições tampouco são unânimes. O seu vice-presidente Louis Alliot participou na manifestação, mas o seu presidente, Marine Le Pen, não o fez e susteve que o debate sobre o matrimónio homossexual é uma "tentativa de distracção" da classe política para que não se abordem os verdadeiros problemas do país.

Pese a manifestação, o governo socialista francês anunciou de antemão que não retrocederá e que o projecto será submetido ao Parlamento em 29 de Janeiro, como estava previsto. Não obstante, os deputados socialistas trataram de acalmar os ânimos ao decidir que não apresentarão uma emenda destinada a abrir a procriação medicamente assistida aos pares homossexuais.

Segundo as sondagens, os franceses são maioritariamente favoráveis ao matrimónio homossexual, mas a respeito da adopção por parte dos homossexuais, a opinião pública está mais dividida. Segundo o último inquérito do instituto LH2, 56% está a favor do matrimónio gay, mas só 50% é favorável á adopção pelos pares homossexuais. (RD/Agencias)


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