Juan de Dios Pizarro, poeta de 84 anos
Quando era menino sentia-se feliz pelo amor familiar e não reparava na sua incapacidade. Afirma não ter nada que reprovar a Deus.
Actualizado 13 Janeiro 2013
Carmelo López-Arias / ReL
Quando Gonzalo Altozano lhe pede que leia ou recite os seus poemas, pareceria que Juan de Dios Pizarro levasse toda a vida compondo-os. Na realidade começou aos oitenta anos - agora tem 84 -, mas sintetizam (porque "quase todos estão dedicados a Deus e à Virgem para compensar as blasfémias, a má vida e a corrupção que os ofendem") o sentido que deu à sua vida desde muito pequeno.
Lar cristão, amor familiar
"Que feliz era eu naquele lar cristão!", recorda Juan de Dios ao recordar a sua infância. O seu pai era carniceiro, os seus irmãos (quatro, mais um que morreu pequeno) trabalhavam no campo e ele, "como não podia ir a nenhum sítio", estudava.
Não podia ir a nenhum sítio porque nasceu sem pés nem mãos: "Mas eu não me dava conta disso pelo carinho da minha família. Eles foram os meus pés e as minhas mãos". E logo está a fé que lhe inculcaram: "É a que me têm em pé. Ensinaram-me o amor a Deus e ao próximo", confessou este sábado em No es bueno que Dios esté solo (Intereconomía TV).
Pelo nosso bem
Hoje, no caso de descobrir-se a anomalia com que vim ao mundo, teria podido ser assassinado antes de nascer: "Mas se os meus pais me tivessem matado, teriam matado os meus filhos e os meus netos", diz, recordando os que vieram depois do seu matrimónio com Belén.
Frente a esse descobrimento moderno do aborto eugenésico, ele sabe que tudo o que nos vem tem uma explicação: "E quando Deus manda uma coisa, manda também o remédio". Nunca lhe reprovou as suas limitações físicas: "Nunca reneguei Deus, bendigo-o até à morte. Tudo o que faz Deus o faz pelo bem da pessoa, não para dar-lhe castigo. Deus é muito bom, veio dar o seu sangue por nós".
Há coisas piores que uma malformação: "O que se afasta de Deus leva a cruz mais pesada. É melhor a dor que a má diversão e ignorar-se os mandamentos, porque isso logo se paga e a consciência te pede contas".
Missa e rosário diários
Assim ele não sofria com a sua situação, da qual, graças ao apoio familiar, apenas foi consciente aos doze ou catorze anos. Então compreendeu a dor de Remedios, sua mãe, a quem dedicou um dos seus poemas: "Eu para ti sempre fui pena, / tu para mim sempre alegria".
Juan de Dios vai à missa em cadeira de rodas quase todos os dias: "Para que Deus não sofra tanto com tanta gente que o odeia". E reza os quinze mistérios do rosário completo todos os dias, cinco deles junto com Belén: "Pelos que não o fazem". Não lhe é aborrecido repetir cento e cinquenta vezes a Ave-Maria: "Sinto-a como um alimento, quase como a comunhão".
A dignidade, no coração
Com a sua idade, não teme a morte: "Porquê, se te liberta dos sofrimentos deste mundo? Além disso, quem teme a Deus não teme a morte". E ele sempre O amou, inclusive - ou sobretudo - na "noite escura" que viveu aos dezoito anos: "Umas provas duras" que não podia partilhar com ninguém, porque onde ele vivia não havia padre permanente. Até que um dia "Deus abriu o céu e vi a luz", e desde então consagrou-se a ele dia e noite.
Organizou no seu povoado a Associação Os Sagrados Corações, e convidava para a sua casa os meninos para instrui-los na doutrina cristã. Hoje o faz com quem se aproxime dos seus versos, simples e populares de expressão, bem rimados, de uma profunda teologia que se resume numa ideia: "A dignidade não está nem nas mãos nem nos pés. Está no coração, em ter nele Deus". Não havia mais que vê-lo e escutá-lo para saber que falava por experiência.
Quando era menino sentia-se feliz pelo amor familiar e não reparava na sua incapacidade. Afirma não ter nada que reprovar a Deus.
Actualizado 13 Janeiro 2013
Carmelo López-Arias / ReL
Quando Gonzalo Altozano lhe pede que leia ou recite os seus poemas, pareceria que Juan de Dios Pizarro levasse toda a vida compondo-os. Na realidade começou aos oitenta anos - agora tem 84 -, mas sintetizam (porque "quase todos estão dedicados a Deus e à Virgem para compensar as blasfémias, a má vida e a corrupção que os ofendem") o sentido que deu à sua vida desde muito pequeno.
Lar cristão, amor familiar
"Que feliz era eu naquele lar cristão!", recorda Juan de Dios ao recordar a sua infância. O seu pai era carniceiro, os seus irmãos (quatro, mais um que morreu pequeno) trabalhavam no campo e ele, "como não podia ir a nenhum sítio", estudava.
Não podia ir a nenhum sítio porque nasceu sem pés nem mãos: "Mas eu não me dava conta disso pelo carinho da minha família. Eles foram os meus pés e as minhas mãos". E logo está a fé que lhe inculcaram: "É a que me têm em pé. Ensinaram-me o amor a Deus e ao próximo", confessou este sábado em No es bueno que Dios esté solo (Intereconomía TV).
Pelo nosso bem
Hoje, no caso de descobrir-se a anomalia com que vim ao mundo, teria podido ser assassinado antes de nascer: "Mas se os meus pais me tivessem matado, teriam matado os meus filhos e os meus netos", diz, recordando os que vieram depois do seu matrimónio com Belén.
Frente a esse descobrimento moderno do aborto eugenésico, ele sabe que tudo o que nos vem tem uma explicação: "E quando Deus manda uma coisa, manda também o remédio". Nunca lhe reprovou as suas limitações físicas: "Nunca reneguei Deus, bendigo-o até à morte. Tudo o que faz Deus o faz pelo bem da pessoa, não para dar-lhe castigo. Deus é muito bom, veio dar o seu sangue por nós".
Há coisas piores que uma malformação: "O que se afasta de Deus leva a cruz mais pesada. É melhor a dor que a má diversão e ignorar-se os mandamentos, porque isso logo se paga e a consciência te pede contas".
Missa e rosário diários
Assim ele não sofria com a sua situação, da qual, graças ao apoio familiar, apenas foi consciente aos doze ou catorze anos. Então compreendeu a dor de Remedios, sua mãe, a quem dedicou um dos seus poemas: "Eu para ti sempre fui pena, / tu para mim sempre alegria".
Juan de Dios vai à missa em cadeira de rodas quase todos os dias: "Para que Deus não sofra tanto com tanta gente que o odeia". E reza os quinze mistérios do rosário completo todos os dias, cinco deles junto com Belén: "Pelos que não o fazem". Não lhe é aborrecido repetir cento e cinquenta vezes a Ave-Maria: "Sinto-a como um alimento, quase como a comunhão".
A dignidade, no coração
Com a sua idade, não teme a morte: "Porquê, se te liberta dos sofrimentos deste mundo? Além disso, quem teme a Deus não teme a morte". E ele sempre O amou, inclusive - ou sobretudo - na "noite escura" que viveu aos dezoito anos: "Umas provas duras" que não podia partilhar com ninguém, porque onde ele vivia não havia padre permanente. Até que um dia "Deus abriu o céu e vi a luz", e desde então consagrou-se a ele dia e noite.
Organizou no seu povoado a Associação Os Sagrados Corações, e convidava para a sua casa os meninos para instrui-los na doutrina cristã. Hoje o faz com quem se aproxime dos seus versos, simples e populares de expressão, bem rimados, de uma profunda teologia que se resume numa ideia: "A dignidade não está nem nas mãos nem nos pés. Está no coração, em ter nele Deus". Não havia mais que vê-lo e escutá-lo para saber que falava por experiência.
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