segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O cérebro da mãe armazena células dos seus filhos procedentes da gestação

A conexão é maior do que se pensava

Um artigo na «Scientific American» revela a potencialidade clínica do descobrimento, mas também a sua riqueza emocional.

Actualizado 7 Janeiro 2013

C.L. / ReL


Segundo um artigo publicado na Scientific American (a revista de alta divulgação científica mais conhecida do mundo), "o vínculo entre mãe e filho é profundo, e uma nova investigação sugere uma conexão física inclusive mais profunda do que alguém pensava".

O fenómeno do microquimerismo, quer dizer, a presença persistente num organismo de células geneticamente distintas das suas, é bem conhecido e parece relacionado com determinadas doenças auto-imunes, mas as suas razões não estão claras.

Como explica o autor, Robert Martone (chefe da área de Neurociência terapêutica no Covance Biomarker Center of Excellence em Greenfield, Indiana, EE.UU.), descobriu-se precisamente achando células com o cromossoma Y circulando no sangue de mulheres despois da gravidez. Como são células masculinas "não podiam provir da mulher, mas sim mais provavelmente dos seus filhos durante a gestação", em virtude do intercâmbio que se produz através da placenta.

O que se descobriu agora é que "as células microquiméricas não só circulam no sangue, mas sim que estão incrustadas no cérebro".

As células podem migrar através da placenta e alojar-se em diversos órgãos: pulmões, músculos, fígado, coração, rins e pele. As possibilidades deste achado são múltiplas, desde a reparação dos tecidos à prevenção do cancro ou o tratamento de doenças auto-imunes.

Segundo este estudo, a presença dessas células no cérebro feminino era menos frequente em mulheres com doença de Alzheimer, pelo qual parecia vinculada à saúde do cérebro. O resultado é um paradoxo, dado que as mulheres com muitas gravidezes (e portanto com presumivelmente mais células no cérebro dos seus filhos e filhas) têm mais probabilidade de ter a doença de Alzheimer.

Convertidas em tecido materno
Este estudo, em concreto, partiu do estudo do cérebro de uma mulher morta na qual se procuraram células com cromossoma Y, achando-se em 60% do cérebro e em muitas das suas regiões.

Mais, uma mulher pode ter em si tanto células dos seus filhos como células da sua mãe, pois o processo através da placenta é inverso.

Mas é mais: em animais descobriu-se que células microquiméricas se haviam convertido em células nervosas, "sugerindo que poderiam estar funcionalmente integradas no cérebro. É possível que o mesmo possa ser verdade no caso de células no cérebro humano", afirma Martone.

Há quem, depois de discutir outros aspectos da experiência na sua vertente terapêutica, conclui que "este novo campo de investigação" é - e está aqui a parte mais poética do que não deixa de ser um estudo muito concreto e definido v- "um recordatório da nossa interconexão". Da interconexão máxima, entre mãe e filho, que perduraria além da morte dela... ou dele, em caso de aborto.


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